Doutora na agulha e na tesoura, nossa doce Dondoca.... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 49
- Formatura, estrela da noite da minha
vida? Em que vais te formar? Que Faculdade cursaste?
- Na Escola de Corte e Costura de dona
Ermelinda, em Plantaforma, seu boboca. Me trate com respeito que agora sou
doutora...
“Com respeito, sou doutora”, estão
vendo? Tenho ou não tenho razão?
Doutora na agulha e na tesoura, nossa
doce Dondoca, não satisfeita de ser doutora, professora emérita, magister inter
pares na ciência do amor.
Não teria hoje problemas a apoquentá-lo,
o comandante. Em quatro ou seis meses, desembolsando alguns cobres, seria
doutor em relações públicas, em penteados e cortes de cabelo, em administração
ou em publicidade.
Não faz muito fui apresentado, na
capital, a um rapaz bem falante e satisfeito de si como nunca vi outro. “Doutor
em publicidade”, explicou-me ele benevolamente, ganhando cento e vinte mil
cruzeiros por mês, ai meu Deus!, formado em São Paulo e Nova York.
Convenceu-me ser ele quem dirige minha
vida, minhas compras, meu gosto, através da ciência e arte da publicidade, a
maravilha do século.
A mais nobre das profissões actuais,
garantiu-me e provou-me, aquela que está na base da produção, do consumo, do
progresso do país. A mais alta forma de literatura e de arte, a última
instância da poesia: o anúncio, o reclame comercial. Homero e Goethe, Dante e
Byron, Castro Alves e Drummond de Andrade são insignificâncias ante um jovem
bardo publicitário especializado em poemas sobre sabonetes, pastas dentífricas,
geladeiras, batedeiras de cozinha, toalhas de matéria plástica.
Na opinião categorizada do doutor em
publicidade, o maior poema de nossa época, obra-prima e supra-sumo da
genialidade poética, fora escrito por aquele especialista com o objectivo de
incrementar a venda dos “Supositórios do Ânus Jovial”.
Um poema sublime pela inspiração, pela
forma perfeita, pela força da emoção transmitida: aumentaria «em 178% a saída
dos beneméritos supositórios, musa moderna.
Fosse hoje e o comandante poderia ser
doutor em publicidade, até por correspondência.
Do rapto de Dorothy com um
desembargador em ceroulas
O rapto de Dorothy foi planejado pelas
Forças Armadas, o Coronel Pedro de Alencar e o Comandante Georges Dias Nadreau,
com a activa colaboração do Estado, representado no complô pelo chefe do
gabinete e pelo ajudante-de-ordens do Governador.
Coube o comando geral da complexa
operação a Carol e nenhum dos grandes estrategistas da História superou-a na
perfeita organização, no exacto conhecimento dos locais, no minucioso estudo
dos detalhes, na escolha dos homens competentes para cada fase da empresa
sigilosa e árdua.
Se bem tenha partido do Comandante Georges a
idéia da façanha, deve-se, sem dúvida, a Carol o seu êxito cabal. Celebraram o
êxito de Carol com champanhe, numa esbórnia que por pouco se inscreveria na história
dos cabarés e prostíbulos de Salvador, pois o Comandante Georges, ante o
magnífico resultado do rapto de Dorothy, qui s
ampliar o esquema, aproveitando a experiência e o entusiasmo, para reviver
naquela noite o “rapto das Sabinas”.
Existia, no 96 da Ladeira da Montanha, o
Castelo de Sabina, pensão de mulheres especializada em estrangeiras: francesas,
polacas, alemãs, russas misteriosas e uma egípcia.
Algumas delas haviam mesmo nascido na
vastidão do Brasil, mas outras aportaram ao seio de Sabina após longa carreira
iniciada em portos da Europa, com escalas na Argentina e no Uruguai.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home