sábado, abril 05, 2014

Fiz obra de valia, perdoem-me a vaidade...
OS VELHOS

MARINHEIROS

Episódio nº 47











Escrevi-o para preencher uma lacuna e sanar uma injustiça: muito se escreve sobre os Presidentes da República, sobretudo enquanto eles estão no poder, elogios a granel.

Os Vice-Presidentes, porém, ficam no esquecimento, a não ser que assumam o governo. Quem se lembra, de memória, da relação completa dos Vice-Presidentes da República?

Quem se recorda, por exemplo, do nome do Vice-Presidente durante o mandato de Prudente de Morais ou de Hermes da Fonseca? Duvido que saibam. Basta isso para demonstrar a oportunidade do meu livro.

Animou-me igualmente a árdua empreitada o concurso na ocasião aberto pelo benemérito Instituto Histórico e Geográfico para monografias históricas, modesto prémio em dinheiro e impressão do trabalho seleccionado às expensas do Instituto.

Honrosa láurea a tentar-me, consegui tempo graças à catarata e ao compadre, atirei-me aos vices. Fiz obra de valia, perdoem-me a vaidade, onde o interessado encontra o nome completo, a filiação, as datas e locais de nascimento e morte, colégios e faculdades frequentadas, cargos exercidos, obras realizadas, os feitos consideráveis de cada um dos Vice-Presidentes

Não esqueci nem mesmo as esposas e os filhos e até alguns netos são citados. Deu-se a um trabalho desgraçado e um renitente catarro devido à poeira da Biblioteca Estadual.

Pois bem: concorri ao prémio, certo de abiscoitá-lo, e tive a decepção de vê-lo atribuído ao outro único concorrente, o doutor Epaminondas Torres, com um trabalho sobre a Sabinada.

 Mesmo em número de páginas dactilografadas sua monografia é inferior à minha: quarenta magras laudas, metade exacta do meu livro.

E por que lhe deram o prémio numa tão flagrante injustiça? Vão saber imediatamente. Ofendido em meus brios, fui ao Instituto e discuti com o senhor secretário. Ele olhou-me por baixo dos óculos, respondeu-me:

- Quem é o senhor para vir aqui falar em injustiça? Não conhece por acaso o Dr. Epaminondas Torres, não sabe que se trata de um dos nossos mais ilustres advogados? Que títulos possui o senhor?

Estão vendo? Meu erro foi ter concorrido contra um bacharel, um doutor. Que títulos possuía eu? Nenhum, a não ser alguns sonetos publicados em cantos de página de jornais e revistas.

Engoli o insulto, tentei obter do Instituto pelo menos a impressão do livro já que me haviam afanado o prémio. Encontrei boa vontade, os nobres historiadores deviam estar com a consciência doendo. Mas o director da Imprensa Oficial, onde deviam ser impressos os volumes, o meu e o premiado, tapeou lindamente os velhinhos do Instituto, jamais mandou os originais para a oficina, meses depois deixou o cargo e o novo director nem quis ouvir falar no assunto.

Assim o trabalho do Dr. Epaminondas nunca foi publicado, não podendo estabelecer-se a comparação com o meu, o que me leva a crer ter havido, em todo esse assunto, sujeira grossa.

Quanto aos Vice-Presidentes da República, editei o livro por minha conta, imprimindo-o na gráfica do Sr. Zitelmann Oliva que me cobrou um preço absurdo mas facilitou-me o pagamento, tendo eu assinado duplicatas.

 Suei para pagar, mas saiu um volume bonitinho, noventa e duas páginas de “úteis informações”, como sobre ele escreveu o erudito autor da História da Bahia, Dr. Luiz Henrique Dias Tavares:

-  “Caro confrade, acuso e agradeço o recebimento de seu livro Vice-Presidentes da República, repositório de úteis informações. Cordialmente, Luiz Henrique”.


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