(Na minha cidade de Santarém 13/4/14)
Acompanhar a vida política do meu país ouvindo na televisão comentadores e analistas é uma previsibilidade, coisa enfadonha, repetitiva, uma perda de tempo.
Os governantes são uns sádicos que sentem prazer em
fazer sofrer o povo com a austeridade e a oposição, grandes defensores dos
pobres e sacrificados, apontam o dedo, acusam mas sem qualquer solução de
alternativa.
Pior que a baixa de salários e das pensões é o
desemprego, o grande flagelo da sociedade não só em Portugal mas por toda a Europa.
Um pouco por todo o lado, as pessoas
protestam pacificamente em enormes manifestações acusando a austeridade como o
grande inimigo.
Muitos viram-se para a Alemanha, para a Srª Merkel mas
ela própria se queixa e lamenta pelo desemprego que atinge a Grécia e Espanha,
especialmente entre os jovens, metade dos quais estão desempregados.
Se ela, líder do país que por sua vez lidera a Europa
se queixa, ou é cínica ou impotente...
Eu quero acreditar que esta enorme tempestade cujos
resultados se vão medir agora nas eleições para o Parlamento Europeu é
consequência de um projecto europeu defeituoso e tímido na sua construção e que
também não se soube defender de uma crise mais profunda do capitalismo
financeiro mundial.
Na Europa, países com interesses que foram opostos e
geraram guerras sucessivas em relações conflituosas ao longo de uma história de
séculos, decidiram, ousadamente construir uma solução de paz para o futuro
através de um projecto político comum.
Avançaram com uma moeda comum, liberdade de circulação
dos trabalhadores mas agora, perante as dificuldades de uma crise financeira
que, não esqueçamos, começou no E.U.A. em 2008 com a insolvência do Banco
Lehman Brothers, a maior falência daquele país, por especulação financeira
imobiliária que se alastrou de imediato aos Bancos Europeus.
Foram oito biliões de euros, segundo cálculos de um
jornal alemão, o prejuízo para a economia mundial.
Foi o ápice de uma
crise que já estava em ebulição há muito tempo no mercado imobiliário
americano, devido a empréstimos hipotecários com más garantias, os chamados subprimes.
O que se seguiu é
bem conhecido: a economia mundial entrou em recessão profunda, os países tiveram de preparar pacotes bilionários de apoio
conjuntural, bancos e companhias de seguro de todo o mundo foram salvos do
colapso com verbas bilionárias pagas pelo contribuinte.
Logo, o G20, grupo
das 20 principais economias industrializadas e emergentes, se reuniu para
apagar o incêndio da crise. A promessa na época era que, no futuro, nenhum
agente ou produto financeiro continuaria desregulado.
Reformas foram
iniciadas para, principalmente, evitar que a falência de um banco pudesse vir a
afectar todo o sistema e que os contribuintes deste mundo não tivessem que pagar
pela jogatina falida dos bancos.
Nós, na Europa,
abanámos por todo o lado porque a União Europeia é algo de incipiente e rígido comparada
com a União dos Estados Americanos e o Banco Central Americano que é na realidade
um Banco Central que não deixa “cair” nenhum dos Estados que o compõem mesmo
falido e deficitário que ele seja.
Ao contrário, o
Banco Central Europeu tem uma intervenção tímida. As dívidas dos países da
Comunidade são deles e será paga com os sacrifícios do respectivo povo mesmo
que esses sacrifícios conduzam a uma penúria com repercussões na economia do
país impedindo um crescimento da riqueza numa espiral de dívida que nada tem a
ver com o objectivo saudável de pôr as Contas do Estado equi libradas.
Toda a gente já
percebeu que a dívida portuguesa, tal como está, não tem possibilidades de ser
paga mas há uma entidade chamada mercado de capitais, para o qual o país está a
ser empurrado na tal “saída limpa”, que empresta dinheiro de que o país precisa
todos os meses a uma taxa de juro que sendo agora mais baixa continua, no
entanto, superior à taxa de crescimento da nossa economia que, apesar de tudo
também melhorou qualquer coisa.
E assim vamos
continuando, subordinados aos mercados financeiros perante uma Comunidade
Europeia que vai agora avançar com o Mecanismo Único de Supervisão Bancária dos
130 Bancos dos países da Comunidade, sinal positivo de reforço da Comunidade
mas que, em boa verdade, não retira o futuro das ameaças e incertezas que todos sentimos.
António Costa,
Presidente da Câmara de Lisboa vai ao âmago da questão quando explica que tudo
começou no início do Sec. XX quando Henry Ford disse que os seus trabalhadores
deveriam ganhar o suficiente para comprarem os carros que ele produzia.
Mas as coisas evoluíram
e a partir de certo momento já não era necessário ganhar para comprar o carro,
bastava que ganhassem o suficiente para pagar a prestação do carro adquirido a...
crédito.
E, da mesma forma
que o salário foi substituído pelo crédito também o capital das empresas ou os
impostos do Estados foram substituídos por crédito ou seja, por dívida.
E num desejo
permanente de modernidade, os próprios Bancos já não precisaram de depósitos,
sustentando-se em modernos produtos financeiros cada vez mais criativos, cada
vez mais artificiais.
Estava montado o “castelo
de cartas” que está na raiz da crise que se tornou visível com as crises do “subprime”
e a falência do Lehman Brothers.
Em trinta anos
assistiu-se a uma gigantesca transferência dos proveitos da economia produtiva
para o sector financeiro, ao crescente endividamento dos estados, das famílias
e das empresas.
Na reparação deste
enorme imbróglio estão, como sempre, os trabalhadores, vítimas inocentes, como
se percebe, e sobre os quais recai agora a grande dúvida se o salário mínimo
nacional deve ou não aumentar 15 euros mensais ou seja, mais 50 cêntimos por dia...
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