... as melhores de todas são as árabes. |
OS VELHOS
MARINHEIROS
(De Jorge Amado)
Episódio Nº 78
Conspirando com jovens tenentes como
Juracy Magalhães e agitadores» como Café Filho? Não sabia terem-se eles reunido
bem nas vizinhanças do Palácio?
A
polícia só descobrira o rastro do revolucionário quando já ele partira para a
Paraíba, onde a casa de José Américo de Almeida era sabidamente centro de
conspiração. Por que não ficava esse Zé Américo a escrever seus romances?
Podia ter razão o deputado, encontrar-se no
navio um daqueles fanáticos perturbadores da ordem pública. Lançou um olhar
desconfiado ao comandante, achou-lhe estranha a fisionomia. O deputado
insistia, alarmante:
- Um dia desses atraca um Ita em Natal,
inofensivo, e em vez de desembarcar passageiros, solta uma leva de
revolucionários nas ruas. Marcham sobre o Palácio, pum-pum, pum-pum, atirando...
Não se engane, toda essa gente da Costeira está com os tenentes. Não é verdade,
Comandante?
- Não pertenço aos quadros da Costeira.
Fiz sempre navegação de longo curso, até aposentar-me. Estou aqui devido ao infausto...
- Ah! É verdade, tinha me esquecido. Foi
o senhor quem salvou a nossa situação... Senão, teríamos de esperar a chegada de
outro comandante do Rio. Sim, senhor, muito bem! Não que eu me importasse de
demorar uns dias na Bahia. Não estou apressado, como o senador, que necessita
chegar logo a Natal.
Eu tenho tempo e gosto da Bahia. Terra boa, só
que a Aliança Liberal está muito fraca por lá, com o Vital Soares candidato à
vice-presidência... Em compensação, tem cada mulherzinha de estalo...
Sorriu com esforço o comandante,
concordando. O senador, contente com o novo rumo da conversa a afastar os
revolucionários que lhe estragavam o jantar, aproveitou a deixa:
- Longo curso, mares afora... Conheceu
muitos países, Comandante?
- Praticamente o mundo inteiro, naveguei
sob várias bandeiras.
- Profissão tentadora mas um tanto
monótona, não? Dias e dias no mar, sobretudo nas viagens longas... - filosofou
o senador.
- Mas deve-se pegar umas zinhas de vez
em quando, hein, Comandante? - o deputado abandonava os conspiradores pelas
mulheres.
O frango assado estava tentador, Vasco
ainda não comera praticamente nada, além do pão. O difícil era cortá-lo, devido
ao jogo do navio. Pegar com a mão não ficaria bem.
- Um comandante a bordo é um eremita.
- Oxente, Comandante, não me venha com
essa história...
- Nos portos, porém, tira-se a forra...
- Desse mundão todo que o senhor viajou,
onde encontrou as melhores mulheres, as mais quentes?
Não era hora para aquela conversa, o
frango ameaçava saltar do prato, exigia completa atenção e todo cuidado. Vasco
desistia:
- É difícil dizer. Depende...
- Ora, então quem não sabe que as
inglesas são frias, as francesas só querem dinheiro, as espanholas,
quentíssimas. Até eu que ainda não saí do Brasil...
- Bem, é verdade, há diferenças. Na
minha opinião, as mais ardentes de todas... - fazia uma pausa, baixava a voz, o
senador e o deputado curvavam-se para melhor ouvir a revelação - ... as
melhores de todas são as árabes.
- Quentes? - sussurrou o senador.
- Um incêndio!
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