terça-feira, maio 13, 2014

... as melhores de todas são as árabes.
OS VELHOS
MARINHEIROS

(De Jorge Amado)


Episódio Nº 78










Conspirando com jovens tenentes como Juracy Magalhães e agitadores» como Café Filho? Não sabia terem-se eles reunido bem nas vizinhanças do Palácio?

 A polícia só descobrira o rastro do revolucionário quando já ele partira para a Paraíba, onde a casa de José Américo de Almeida era sabidamente centro de conspiração. Por que não ficava esse Zé Américo a escrever seus romances?

 Podia ter razão o deputado, encontrar-se no navio um daqueles fanáticos perturbadores da ordem pública. Lançou um olhar desconfiado ao comandante, achou-lhe estranha a fisionomia. O deputado insistia, alarmante:

- Um dia desses atraca um Ita em Natal, inofensivo, e em vez de desembarcar passageiros, solta uma leva de revolucionários nas ruas. Marcham sobre o Palácio, pum-pum, pum-pum, atirando... Não se engane, toda essa gente da Costeira está com os tenentes. Não é verdade, Comandante?

- Não pertenço aos quadros da Costeira. Fiz sempre navegação de longo curso, até aposentar-me. Estou aqui devido ao infausto...

- Ah! É verdade, tinha me esquecido. Foi o senhor quem salvou a nossa situação... Senão, teríamos de esperar a chegada de outro comandante do Rio. Sim, senhor, muito bem! Não que eu me importasse de demorar uns dias na Bahia. Não estou apressado, como o senador, que necessita chegar logo a Natal.

 Eu tenho tempo e gosto da Bahia. Terra boa, só que a Aliança Liberal está muito fraca por lá, com o Vital Soares candidato à vice-presidência... Em compensação, tem cada mulherzinha de estalo...

Sorriu com esforço o comandante, concordando. O senador, contente com o novo rumo da conversa a afastar os revolucionários que lhe estragavam o jantar, aproveitou a deixa:

- Longo curso, mares afora... Conheceu muitos países, Comandante?

- Praticamente o mundo inteiro, naveguei sob várias bandeiras.

- Profissão tentadora mas um tanto monótona, não? Dias e dias no mar, sobretudo nas viagens longas... - filosofou o senador.

- Mas deve-se pegar umas zinhas de vez em quando, hein, Comandante? - o deputado abandonava os conspiradores pelas mulheres.

O frango assado estava tentador, Vasco ainda não comera praticamente nada, além do pão. O difícil era cortá-lo, devido ao jogo do navio. Pegar com a mão não ficaria bem.

- Um comandante a bordo é um eremita.

- Oxente, Comandante, não me venha com essa história...

- Nos portos, porém, tira-se a forra...

- Desse mundão todo que o senhor viajou, onde encontrou as melhores mulheres, as mais quentes?

Não era hora para aquela conversa, o frango ameaçava saltar do prato, exigia completa atenção e todo cuidado. Vasco desistia:

- É difícil dizer. Depende...

- Ora, então quem não sabe que as inglesas são frias, as francesas só querem dinheiro, as espanholas, quentíssimas. Até eu que ainda não saí do Brasil...

- Bem, é verdade, há diferenças. Na minha opinião, as mais ardentes de todas... - fazia uma pausa, baixava a voz, o senador e o deputado curvavam-se para melhor ouvir a revelação - ... as melhores de todas são as árabes.

- Quentes? - sussurrou o senador.

- Um incêndio!

Site Meter