Carlos Esperança |
Uma Entrevista a
Carlos Esperança
(Presidente da Associação Ateísta Portuguesa)
“As Religiões são Nocivas”
O Presidente da Associação Ateísta Portuguesa já foi católico e ainda não conseguiu a anulação do baptismo. No entanto, o que mais in
A Religião continua a ser o
ópio do povo?
- Não diria que é o ópio do
povo mas é frequentemente um detonador de ódios. Teria dúvidas em utilizar a
frase de Marx, mas também não a repudio, mesmo sem subscrever o marxismo.
E acredita que Portugal seria
um país melhor sem religião?
- A
natureza tem horror ao vazio. Se não tiver esta religião arrisca-se a ter
outra. E nunca se sabe se a outra não é pior.
Quer isso dizer que a Igreja
Católica é um mal menor?
- Se nos circunscrevermos às
religiões do livro, diria que no Protestantismo há níveis de tolerância maior
que no Catolicismo. Mas não em
todo. E o Catolicismo não é homogéneo.
Entre aqueles que se fazem
pregar na cruz, e seitas radicais como a Opus Dei, os Legionários de Cristo e a
Comunhão e Libertação, tenho dificuldades em indicar a pior e a melhor.
Todas as religiões são
igualmente falsas e nocivas.
No entanto, a nossa civilização
judaico-cristã está fundada nessas religiões
- No meu ponto de vista ateu,
devemos mais ao Iluminismo e à Revolução Francesa do que ao Catolicismo. E
diria que a cultura Greco-Romana é indiscutivelmente importante para aqui lo que somos.
O prazo de validade do
Cristianismo já expirou?
- É muito natural que, dentro de séculos ou
milénios, o Deus judaico-cristão seja estudado pela mitologia, como Osíris,
Zeus ou Neptuno. Mas não sou profeta.
Enquanto os crentes estão
cheios de certezas, os ateus estão crivados de dúvidas.
Nunca sente falta de
certezas?
- Não, apesar de ter tido educação católica
numa pequena aldeia beirã, com catequi stas
que atribuíam o pôr do sol a um sinal de Lúcia e diziam que comunistas e judeus
iriam matar os cristãos, num antissemitismo primário, de gente quase
analfabeta, mas que nos ensinavam a debitar o catecismo, como se faz com o
Corão nas madraças.
Foi um católico convicto?
- Até
aos dez anos, seguramente. Enternecia-me muito com o sofrimento de Jesus. Dos
10 aos 14, quando fui para o Liceu da Guarda, deixei de frequentar a Igreja,
salvo uma vez por ano, pois era mais ou menos obrigado a fazer a confissão e a
comunhão na Páscoa.
Éramos induzidos a rezar o
terço à sexta – feira, mas nuca fui. Parece que a Lúcia tinha mandado rezar o
terço e obedeciam-lhe, como a Salazar, e com igual dedicação.
Aos 14 anos deixei de
acreditar em seres hipotéticos.
Que valores defende a
Associação Ateísta Portuguesa?
- O nosso código de conduta
é o respeito pela Declaração Universal dos Direitos do Homem e pela
Constituição da república Portuguesa.
De resto, cada ateu é ateu à
sua maneira. Caso contrário tornamo -nos numa igreja. A Albânia foi o único
caso de ateísmo obrigatório. Por paradoxo, o ateísmo foi religião de Estado
graças ao psicopata Hosha (ditador comunista).
Compartilham a crença no
primado da Ciência?
- O ateísmo é uma opção filosófica assumida
por quem se sente responsável pelos seus actos, preza a vida – a sua e a dos
outros – e cultiva a razão, confiando no método científico. E os ateus são
pessoas que não remetem a questão do Bem e do Mal para seres incertos, nem têm
esperança numa vida para além da morte.
Entende as pessoas que
defendem o Criacionismo para explicar a origem do mundo?
- O Criacionismo não resiste ao mais simples
critério de análise científica.
Mas os criacionistas dizem
que também não é fácil comprovar o Evolucionismo...
- A fé que os salve... A Teoria da Evolução das Espécies não explica
tudo mas acabou por demolir a religião. A partir daqui
os movimentos ateus e agnósticos ganharam muita força.
Defendem restrições à prática
religiosa?
- Muito pelo contrário a
liberdade de crença e descrença e de anti-crença têm de estar ao mesmo nível.
Defendemos muito menos o ateísmo do que a laicidade. O Estado não pode ser
ateu, pois um estado ateu é totalitário.
(continua)
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