quarta-feira, maio 07, 2014

E porque não havia de ir, se o dever me obriga...
OS VELHOS
MARINHEIROS


Episódio Nº 73











O comandante relanceou o olhar por uns e outros, silencioso. O representante da Costeira completava as explicações de Zequinha, dizia de como a Companhia ficar-lhe-ia grata e certamente o recompensaria à altura do favor prestado.

- Jurei não voltar a pôr os pés na ponte de comando de um navio, quando me aposentei. Foi uma história triste, os amigos aqui presentes conhecem os detalhes.

Zequinha Curvelo não gostou daquele começo:

- Mas, diante das circunstâncias atuais...

- Juramento é juramento, palavra de marinheiro não volta atrás.

Interveio o Sr. Américo Antunes:

- Desculpe-me, Comandante, mas o senhor é obrigado por lei. Aliás, o senhor sabe disso melhor do que eu. São as leis do mar.

- E da honra enlameada por invejosos - acrescentou Zequinha.

O comandante via o grupo adversário lá fora a dissolver-se, expulso pela chuva cada vez mais forte, os mais renitentes abrigando-se em casa das irmãs Magalhães, no batente da porta das solteironas o vulto de Chico Pacheco. Voltou-se para os dois amigos:

- Permitam-me conversar a sós com o senhor Américo. Desejo discutir uns detalhes com ele.

 Levou-o para a sala, deixando Zequinha e Emílio na entrada. Durou pouco mais de dez minutos a conferência, viram o comandante voltar acompanhando o representante da Costeira que repetia:

- Pois fique descansado, vai tudo sair bem.

Um aperto de mão e o forasteiro atirou-se sob a chuva, correndo, pois se ouvia o barulho do trem, vindo de Paripe, não o apanharia se não se apressasse.

Chico Pacheco foi-lhe ao encalço para saber as novidades, mas não podia competir em ligeireza com o outro, e quando alcançou a estação, o trem já partia.

O comandante explicava a Zequinha e Emílio:

- Exigi um documento da Companhia, assinado pelo Presidente da Costeira, dando as razões pelas quais rompo meu juramento...

- Quer dizer que vai assumir o comando? - exultava Zequinha.

- E por que não havia de ir, se o dever me obriga e dão-me uma declaração sobre o juramento? Dorothy perdoará...
  

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