Seria um favor prestado à Companhia e aos passageiros... |
OS VELHOS
MARINHEIROS
Episódio Nº 72
Na travessia entre Rio e Salvador falecera o
comandante, assumira o imediato o comando do barco, mas a lei exigia que, do
primeiro porto em diante, até a chegada de um comandante da Companhia fosse o
navio conduzido por um outro capitão de longo curso, qualquer um que ali se
encontrasse desocupado ou em férias ou já aposentado.
Leis absurdas, como se o imediato não
pudesse levar o navio até Belém, onde dispunha a Companhia de outro comandante:
um paraense a passar as férias em sua terra, para quem já seguira telegrama.
Ele, o desconhecido, era o Sr. Américo
Antunes, representante da Costeira na Bahia, cabia-lhe descalçar aquela bota.
Como se já não bastassem as providências para o enterro do comandante falecido...
- Não jogaram o corpo no mar...? - qui s saber Zequi nha.
Antes tivessem jogado, evitar-lhe-iam trabalho e aborrecimentos.
Onde arranjar outro comandante? Fora,
como é natural, à Capitania dos Portos, em cujos livros estão inscritos os
nomes e os endereços dos capitães-de-longo-curso diplomados pela Capitania.
Quase todos eram comandantes de carta de
borracha, sem serventia no mar, estavam para as bandas do São Francisco, nas
gaiolas.
Comandante mesmo, com exame completo e
trabalho aprovado, só havia um, esse tal Vasco Moscoso de Aragão, de cujo
paradeiro nada sabiam na Capitania, e em cujo endereço, no Largo 2 de Julho, não
era encontrado.
Descobrira finalmente seu destino actual
e vinha convidá-lo a assumir o comando do Ita, levá-lo até Belém, porto final
da viagem de ida, onde já o outro comandante estava à espera para a travessia
de volta.
Seria um favor prestado à Companhia e
aos passageiros, alguns ilustres, inclusive, um senador federal, do Rio Grande
do Norte, pois se não houvesse ele descoberto esse providencial comandante,
teriam navio e passageiros de esperar três ou quatro dias pela vinda de um
outro, do Rio de Janeiro.
Atraso para os passageiros, prejuízo
enorme para a Companhia. Chico Pacheco riu ironicamente:
- Pois vão ter de esperar, porque esse
comandante não vai levar navio nenhum... Não vai arredar os pés daqui ...
- Não creia nisso - atalhou Zequi nha Curvelo. - O comandante ficará feliz com essa
oportunidade.
- Feliz ou não - considerou o Sr.
Antunes - ele terá de fazê-lo. A lei o obriga. Mesmo que esteja de férias ou
aposentado...
Chegavam à porta da casa do comandante,
viam-no na sala dos fundos ante a grande janela de vidro, a fitar o mar
encapelado.
Zequi nha
Curvelo chamou por ele, fez as apresentações, explicando já o caso, esfregando
as mãos:
- Agora, Comandante, o senhor vai
esmagar essas serpentes.
Os adversários tinham ficado do lado de
fora, sob a chuva, apenas Zequi nha
Curvelo e Emílio Fagundes haviam transposto, com Antunes, a soleira da porta.
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