terça-feira, maio 20, 2014

Já lhe examinara o Comandante os dedos, não usava aliança.
OS VELHOS
MARINHEIROS

Episódio Nº 84












- É mais do que filho... - disse o deputado.

- O que é, então? - quis saber a de covinhas.

- Lhe digo no ouvido ...

- No meu... - reclamou a morena. Sussurrou-lhe algo Othon, a boca colada à orelha da morena, ela tapou o riso com a mão, escandalizada:

- Que horror, que homem impossível...

- O que foi que ele disse? Conte...

Vasco cumprimentava com a cabeça a dama do pequinês, vítima do diálogo das artistas e do deputado. Ela sorriu respondendo, mas logo seus olhos viram o grupo do comandante, voltou as costas, num movimento brusco. Vasco inquietou-se, desejava ir ajudá-la a armar a espreguiçadeira. A franzina estava a lhe perguntar:

- O senhor também acha?

- O que, senhorita?

- Isso que o Dr. Othon está dizendo...

- Não sei o que é... Dêem-me licença, por favor.

Saía apressado, aproximava-se da dama, tomava da cadeira, que ela não conseguia armar, com um braço ocupado em carregar o pequinês.

- Permita-me, minha senhora...

Ela agradeceu:

- Tomando trabalho... Muito obrigada.

- Foi um prazer, acredite... Mas sente-se, por favor. Sentava-se, punha o animal no colo, ele mostrava os dentes ao comandante, rosnava.

Vasco encostou-se ao balaústre, em frente.

- Quieto, Jasmim, respeite o Comandante...

- Ele não gosta de mim...

- É assim com todo mundo, a princípio. Tem ciúmes de mim. Depois acostuma.

E, com a voz trocista e um pouco enfadada:

- Suas amigas estão reclamando sua ausência, Comandante. Veja como nos olham e falam a nosso respeito...

O comandante espiou para o lado das artistas e do deputado, estavam rindo, a franzina piscou-lhe o olho.

- Não são minhas amigas. Acabei de lhes ser apresentado.

- São artistas, dizem. De terceira ordem, com certeza. Parecem mais mulheres da vida, desde o Rio é esse escândalo, os homens todos em redor delas. Esse tal de Dr. Othon então não se afasta um minuto. Parece que não existe mais ninguém a bordo.

- Não é possível, a senhora exagera, certamente. Com a senhora a bordo, como pode alguém olhar outra mulher?

- Comandante, pelo amor de Deus... O senhor até me deixa sem jeito.

- Vai ficar também em Recife?

- Vou até Belém. Vivo lá... - e suspirou.

Já lhe examinara o comandante os dedos, não usava aliança.

- Foi passear no Rio?

- Passar uns tempos em casa de minha irmã. O marido dela é engenheiro no Ministério da Viação.

- Não quis ficar vivendo lá?

- Não podia, a casa é muito cheia, têm cinco filhos. Vivo com meu irmão, em Belém. É casado também, mas só tem dois filhos...

- E a senhora?

- Eu? - voltou o rosto, perdeu-se seu olhar no horizonte. - Não quis casar...


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