É um triste galanteio |
OS VELHOS
MARINHEIROS
(Jorge Amado)
Episódio Nº 106
-
O marido está muito doente. Os médicos no Rio não lhe deram esperanças. E ele
próprio, sendo médico, não tem ilusões.
- Deixemos a pobre senhora em paz, tão
digna de pena. Vamos à teoria, Dr. Morais, o senhor me mata de curiosidade -
interveio dona Domingas.
- Pois bem: hoje diz-se balzaqui ana para uma senhora de seus quarenta anos, não
é, dona Domingas? Quando está em pleno... - parecia procurar a palavra exacta,
ajudando-se com a mão levantada - ... em plena exigência. A idade do vulcão...
- Gozado... - disse o estudante,
evidentemente pouco oportuno.
- Aos quarenta? - o senador considerava
a questão com o mesmo grave ar de entendedor com que votava de cabresto todos
os projectos governamentais.
- Ora, as balzaqui anas
têm duas formas, dois meios, duas maneiras de sair de sua condição quando o
tempo é chegado. A primeira é a maneira “vovó”, essa que a senhora usa como
ninguém, dona Domingas. Dando à sua beleza a dignidade devida aos cabelos
brancos...
- É um triste galanteio...
- As outras, a grande maioria aliás,
passam do estado de balzaqui ana para
o estado de baqueana. E assim chegamos à definição clássica, estabelecida por
um sábio vienense, das baqueanas.
A
baqueana, dona Domingas, é a balzaqui ana
quando baqueia, a balzaqui ana baqueada.
Ou seja, quando avançada na casa dos quarenta, aproximando-se dos cinquenta, já
o continente não corresponde ao conteúdo...
- Que história é essa? - qui s saber a mameluca, muito parada e silenciosa em
sua cadeira, os olhos no advogado.
- Quando o exterior já não corresponde
às necessidades interiores...
- Quando as rugas começam a virar
pelanca. O pior é que a maioria das baqueanas não se dá conta de seu estado,
agem como mocinhas ou como balzaqui anas.
Por exemplo, a menina Clotilde...
Conheço muito a sua família, sou amigo de seu irmão.
- Mas o senhor é injusto com ela -
comentou dona Domingas. Não está ainda nesse estado. Balzaqui ana, sim, mas não baqueana. O senhor, tão
entendido no assunto, cometeu um erro.
- Erro, e grave, quem cometeu foi a
senhora, minha cara amiga. Mal está se informando dos rudimentos de uma ciência
e já tenta dar qui nau no professor...
É
que ainda não desenvolvi completamente toda a teoria das baqueanas. Nenhuma
solteirona, dona Domingas, em nenhum momento, pertence à classe das balzaqui anas. Passa directamente de mocinha para
baqueana.
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