Aquele é Natário, capanga do coronel Boaventura. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 10
Venturinha conseguiu conter a língua, não arrotou demasiada grandeza nem se proclamou o valente dos valentes, não ameaçou céus e terras com a pistola alemã, arma de estimação, uma jóia.
Nem sequer quando se embebedou no cabaré e qui s agarrar a pulso a pernambucana Doralice,
rapariga do coronel
Hermenegildo Cabuçu, ausente na ocasião,
graças a Deus.
Natário o convenceu a desistir e o levou
embora.
No cartório, cujas molas o Coronel
azeitara com antecedência, não houve a menor dificuldade para o
registo das medições e a entrega das escrituras dos títulos de
propriedade que legitimavam a posse da imensa sesmaria do coronel Boaventura
Andrade e do pedaço de chão do capitão Natário da Fonseca.
Nas pensões e casas de putas a animação
permaneceu intensa, dia e noite. Os jagunços da Fazenda da Atalaia esbanjavam
dinheiro; crescia o prestígio do novo chefe político, era Deus nas alturas e o
coronel Boaventura na terra.
Ao ver Natário atravessar a Rua do
Umbuzeiro, Maria das Dores, sentada no batente da porta da rua,
apontou-o com o dedo e esclareceu Zezinha do Butiá, novata vinda de Lagarto:
- Aquele é Natário, capanga do coronel
Boaventura, cabra ruim, mais perverso não existe. Nem ele sabe a conta dos
crimes que já cometeu. Pois bem, tu pode não acreditar mas tem mulher que é maluca
por ele, Deus me livre e guarde. - Cuspiu com desprezo.
Mulata dengosa, de bunda redonda e peito
de rola, Zezinha do Butiá, apesar de recém-chegada, parecia bem informada:
-
Eu soube diferente. Que esse é o capitão Natário, endinheirado, danisco e bom
de coração. Diz que nunca maltratou mulher.
Suspirou, faceira, acompanhando Natário
com a vista.
Zezinha do Butiá estava, como se diz, na
flor da idade e da
formosura, os homens brigavam por ela.
Gritou para o molecote ocupado em comer terra:
-
Corre, Manu, atrás do moço que vai ali adiante. Pede a bênção a ele e diz que
eu estou esperando ele, pode vir na hora que qui ser.
Não carece trazer dinheiro.
Para uns, criminoso, cabra desalmado,
bandido sem entranhas; para outros, valente capitão, de natural bondoso, bem - querer
das damas.
Antes de deixar a fazenda para passar em
Ilhéus os últimos dias de férias com a mãe, dona Ernestina, padrão de todas as
virtudes, Venturinha qui s conhecer o
lugar onde se dera a ocorrência.
Desejava ver com os próprios olhos, saber
de ciência certa, para poder contar aos colegas de Faculdade e de farra, na
Capital, valorizando os detalhes. Natário o conduziu:
- Tu vai avistar uma amostra do céu.
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