sábado, julho 26, 2014

Deve ter sido emocionante, hein, Natário...
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)


Episódio Nº 11

















Entre as pedras do improvisado cemitério, o mato brotava
impetuoso, cresciam arbustos, pés de mamoeiro, desabrochavam flores.

A notícia da façanha, propagada e aumentada de boca em boca, atraía curiosos que se desviavam da estrada real. A trilha aberta pelos animais começava a se alargar ao passo dos homens, transformando-se em caminho.

Buscando encurtar o percurso, uma tropa de burros carregados com sacos de cacau enveredara por ali. A primeira.

Venturinha fez questão de acometer até o cimo da colina, o que lhe custou esforço: corpulento igual ao pai, gordo igual à mãe.

Postou-se atrás do pé de mulungu então em flor, sacou a pistola alemã, visou um camaleão, atirou, O estampido ressoou nas quebradas da serra.

 - Deve ter sido emocionante, hein, Natário? Chego a me arrepiar.

Natário teria ouvido? O olhar perdia-se além do horizonte e do tempo. Todo homem precisa construir sua casa para nela viver com a mulher e os filhos, no sítio que melhor lhe apetecer.

Natário tinha mulher e quatro filhos.

 - O Velho devia mandar botar uma placa aqui em cima, como se faz nos campos de batalha.

Para quê? Não bastava o nome na boca do povo? O lugar da
tocaia grande. Com o tempo e os habitantes, apenas Tocaia Grande.


O PONTO DE PERNOITE


O DEUS DOS MARONITAS CONDUZ O MASCATE FADUL ABDALA A UM SÍTIO PARADISÍACO

 1

Os mamoeiros, nascidos sobre as covas no improvisado cemitério, davam os primeiros frutos quando Fadul Abdala, tendo se perdido, descobriu aquela boniteza de lugar.

 Libanês de estatura agigantada, todo ele desmedido — mãos e pés, o arcabouço do peito e a cabeçorra — ganhara nos cabarés de Ilhéus e de Itabuna o apelido de Grão-Turco, mas nas estradas do cacau era conhecido por Turco Fadul ou mais simplesmente seu Fadu, na voz dos alugados que enxergavam nele a providência divina.

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