domingo, julho 27, 2014

Largo do Seminário
HOJE É

DOMINGO


(Na minha cidade de Santarém em 27/7/14)










Há neste momento condições para se pensar que a queda e saída de cena do BES de Ricardo Salgado com a falência de todo Grupo, vai permitir o início de uma nova era para Portugal, uma verdadeira revolução que não mete espingardas com cravos nos canos nem reboliços nas ruas.

No curto e médio prazo irá haver enormes prejuízos no BES, que descerá no ranking dos Bancos comerciais portugueses, abaixo do BCP, ao nível do BPI que um dia, sabe-se lá, não poderá vir a comprar os seus restos que já não se chamará assim pela má reputação que o nome encerra.

O Grupo, falido, sob protecção de credores, irá ver muitas das suas empresas fechadas, outras reestruturadas por novos donos, muitos dos activos vendidos a baixo preço e uma parte considerável das suas dívidas a credores não serão pagas, perdidos milhares de postos de trabalho.

A família irá perder tudo, ser processada, desagregar-se e depois, talvez nascer com novas caras.

Entretanto, Ricardo Salgado prepara a defesa, contra accionistas, clientes, reguladores e a própria família que não lhe perdoa as suspeitas de enriquecimento pessoal embora ele diga que a responsabilidade é de todos.

A fortuna da família, essa, está perdida e a reputação para lá caminha. Para recomeçar só com novas caras, alguém mais novo desta geração.

Tem assim, início uma nova vida para o tecido económico do país, mais pobrezinhos, com mais desempregados mas livres da teia de interesses de um império de centenas de empresas aqui e um pouco por todo o mundo que impunham a sua lei. Só Bancos eram seis... por quase todos os continentes.

Mas das ruínas e depois de assentar o pó teremos um novo ambiente onde talvez seja possível a tal reforma que os interesses instalados não permitiam.

Mas por quê só agora que o Ricardo Salgado saíu do BES, detido para prestar declarações sobre graves suspeitas correspondentes a uma moldura penal até 12 anos de cadeia, é possível essa nova era para os portugueses?

Eu explico:

 - Antes de R. Salgado sair do Banco não era possível desencadear todo este processo acusatório pelo risco sistémico que provocaria. Não é impunemente que se é o dono de um império e banqueiro do regime há mais de 20 anos.


  - O dono do BES e de mais 6 bancos, em África, América do Sul e Europa, detido como arguido para interrogatório, provocaria um abalo demasiado perigoso para os interesses, ao nível do valor das acções e depósitos para muitos milhares de pessoas inocente e as autoridades judiciais não podem ser insensíveis a esses riscos.

 - Ricardo Espírito Santo saíu, entrou uma nova administração para o Banco e no dia em que foi ouvido durante 8 horas pelo Juiz Carlos Alexandre, as acções do BES até subiram... Ele passou a ser um cidadão comum a braços, e que braços, com a justiça... a clarificação tinha começado.

O desmoronar deste império e da teia de interesses em que assentava vai permitir o início da libertação da sociedade portuguesa.

A produção de riqueza e a sua distribuição, mais esta do que aquela, estavam em Portugal condicionadas por essa rede que, com R. Salgado à cabeça, diziam respeito, em maior ou menor percentagem, a umas centenas de pessoas que passam pela Assembleia da República, Partidos, Governos, Juízes, Gabinetes de Advogados e Grandes empresas, numa cumplicidade que tolhia o país.

Um caso para perceberem isto:

 - O Sr. Salgado, por exemplo, não declarava milhões de euros de rendimentos para efeitos de impostos e era feita uma lei, ou já estava feita, que iria permitir-lhe regularizar a situação sem qualquer incómodo para ele do ponto de vista legal.

- Se houver a prestação de uma falsa informação a um Supervisor, nos termos da lei, apenas dá lugar a uma contra - ordenação em vez de um crime como deveria ser de acordo com a ética.

 - Se era preciso mais dinheiro inventavam-se os Contratos Swaps e socorria-se a Parcerias Público Privadas, as denominadas PPP, com contratos opacos, complexos, a favor dos concessionários.

 - Na primeira destas PPP, a da Ponte Vasco da Gama, inaugurada em 1998, um relatório do Tribunal de Contas denunciava que até 2001 “haviam sido pagas contrapartidas directas ao concessionário de 900 milhões de euros, o equivalente a uma nova ponte”.

- Se era preciso aprovar um empreendimento turístico da empresa Portucale, do Grupo Espírito Santo, três Ministros reúnem-se à pressa, antes das legislativas de 2005, para assinarem um despacho que esteve na origem de um rápido abate de vários milhares de sobreiros, árvore protegida por lei no nosso país. Em 2012 todos os arguidos foram absolvidos...


 - Em algumas auto-estradas, o custo do aluguer dos pórticos absorve cerca de metade da receita... e tudo isto junto explica a situação miserável em que estão as finanças do país.

Não vamos pensar, com certeza, que só os governantes têm a ver com isto. Com o Sr. Ricardo Salgado pujante, DDT (dono disto tudo) ninguém teria força para mexer nos Contratos Swaps que eram tão queridos aos bancos.

 Ele era a pedra cimeira da pirâmide, pessoa temida, respeitada, elogiada e condecorada ao longo de mais de 20 anos.

Toda a vida económica deste país está minada por interesses que agravam o preço da energia, das portagens, das comunicações, das tele - comunicações, tudo rendas empoladas que castigam os portugueses.

Eles funcionam como uma espécie de cobradores invisíveis, ocultos que ainda por cima nos caluniam porque ganhamos demais, não trabalhamos o suficiente e gastamos para além das nossas posses, comprando casas que nos foram impingidas pela rede de interesses, viajando de férias para o estrangeiro na modalidade do “vá agora e pague depois” e contraindo empréstimos que nos era levado a casa ou pelo telefone.

Agora, desplicentemente, a propósito da crise e da austeridade diziam, o Ulritch do BPI, que “aguentamos, aguentamos...” e o R. Salgado que os “portugueses não gostam de trabalhar e querem é viver do subsídio de desemprego”

Mas porque se desmoronou isto tudo? Porque acabou corrido Ricardo Salgado?

 - Exactamente por causa da crise, da falta de dinheiro para tapar tanto “buraco” provocados por gestão ruinosa e fraudulenta daquela gente. Há um momento em que o “balão rebenta”, já não é mais possível mantê-lo no ar...

A PT, melhor dizendo, o Sr. Henrique Granadeiro, Presidente do Conselho Executivo, a ordens de Ricardo Salgado, emprestou, há dias, quase 900 milhões de euros (metade do seu valor) a uma empresa falida da “família”, a Rioforte, que, neste momento já lhe devia ter devolvido o dinheiro e não devolveu exactamente porque já estava falida, tendo agora solicitado ao Tribunal a Protecção de Credores.

 - Isto passa pela cabeça de alguém? - Isto não é um roubo declarado feito aos accionistas? - Este senhor não irá ter que responder em Tribunal por uma decisão destas? – Com que argumentos jurídicos e de gestão irá ele defender-se?

Quando no princípio deste texto falei numa revolução sem cravos nos canos das espingardas o que pretendi afirmar é que nada disto volta a ser possível de repetir porque a rede extinguiu-se, a família desapareceu de cena, o império desmoronou-se, as mais de quatrocentas e tal empresas muitas vão mudar de dono e outras encerrar com os activos vendidos pelo Tribunal para pagar a credores.

Desconhece-se o tempo que vai levar e a extensão dos danos mas no fim Portugal e a economia portuguesa serão diferentes, sem favores, cumplicidades, mais na base do mérito, saudavelmente mais competitiva.

Espero e desejo que o novo poder político que vem aí, não o de “sound bites” e promessas demagógicas, consiga envolver os portugueses, o maior número possível, numa via de recuperação que, pelo menos, ainda venha a atingir os meus netos antes deles envelhecerem.  

Site Meter