Que música escutas tão atentamente
Que não dás por mim?
Que bosque, ou rio, ou mar?
Ou é dentro de ti
Que tudo canta ainda?
Queria falar contigo,
Dizer-te apenas que estou aqui,
Mas tenho medo,
Medo que toda a música cesse
E tu não possas mais olhar as rosas.
Deixa-te estar assim,
Ó cheia de doçura,
Sentada, olhando as rosas,
E tão alheia
Que nem dás por mim…
Medo de quebrar o fio
Com que teces os dias sem memória.
Com que palavras, beijos
Ou lágrimas
Se acordam os mortos sem os ferir,
Sem os trazer a esta espuma negra
Onde corpos e corpos se repetem,
Parcimoniosamente
No meio de sombras
Eugénio de Andrade
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