GOLO!.... |
GOLO !
A sabedoria dos velhos é lendária, só eles acumulavam saberes de experiências vividas e quando chegavam a uma idade avançada eram repositórios de conhecimentos. Por isso procurados e respeitados.
Mas isto era noutros tempos,
não tão distantes como se possa julgar e se alguma coisa de verdadeiramente
importante distingue a época de agora é exactamente pelo que representam os
velhos na sociedade de hoje diferentemente do que representavam antes.
É que, entretanto, a forma de
aqui sição dos conhecimentos deixou
de ser empírica, fruto do ensinamento de experiências testadas, acumuladas e
transmitidas ao longo de gerações, para ser de natureza científica, fruto da
observação, experimentação e de conclusões lógicas e fundamentadas estudadas
nos laboratórios e aprendida nos livros das escolas e das universidades, que entretanto, deixaram de ser apanágio de alguns, para estarem à disposição de
todos e os velhos, coitados, perderam importância e são hoje, muitas vezes,
como que um “fardo” para as gerações que os antecederam.
Mas com a minha neta Filipa,
dois anos acabados de fazer, aprendi que há outra sabedoria que se contrapõe à
que foi a dos velhos e a que eu chamarei da sabedoria dos bebés.
Inspira-se na inocência que
rapidamente se perde perante as realidades da vida e a necessidade de conviver
com elas para sobrevivermos.
Para a Filipa, por exemplo,
não existe futebol e muito menos Benfica ou Sporting, no lugar de tudo isso
existe o Golo… o golo como momento de alegria eufórica, de aplausos, risos,
saltos, palmas, em suma, de felicidade e não vale a pena argumentar com os
golos do adversário já que esses, para a minha neta, não existem porque golo,
para ela, é sinónimo de explosão incontida de felicidade, de uma enorme alegria
da avó e do papá e eu, que sou do Sporting, lá tenho que me associar à festa
para que a felicidade dela seja total.
E vêm depois os
especialistas, os estudiosos, os entendidos, afirmarem que os golos são o sal e
a pimenta do futebol quando a minha neta, ainda muito antes dos dois anos, já
tinha percebido isso perfeitamente.
No decurso do jogo do Benfica
com o Paços de Ferreira ela estava na sala a ver o jogo com a avó enquanto eu
jantava e via o jogo na televisão da cozinha.
Um avançado do Benfica remata
à malha lateral da baliza, grita-se golo e a Filipa vem a correr ter comigo e
diz-me: avô, Golo!
-“Não foi, meu amor, a bola
foi ao lado”… respondi eu, e ela, entre desiludida e perplexa, regressa à sala remoendo para consigo, num tom mais baixinho: ... foi golo.
Passados alguns minutos, não
muitos, o Benfica mete mesmo golo e a Filipa vem de novo a correr à cozinha e
diz-me:
-Avô, na sala,
foi Golo!
Que a vida possa ser para ela
um eterno GOLO!
Nota- Passaram seis anos sobre este texto e a Filipa, agora com oito, já não é o bébé que gritava golo e que tantas saudades me deixou. Agora, para ela, é mais Morangos com Açúcar e as Sereias...
Mas, entretanto, apareceu a Matilde que está com ano e meio a tempo de aprender a gritar golo como sinal de alegria de toda a família...
Mas, entretanto, apareceu a Matilde que está com ano e meio a tempo de aprender a gritar golo como sinal de alegria de toda a família...
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