domingo, agosto 24, 2014

Largo do Seminário em Santarém
Hoje é Domingo
(Na minha cidade de Santarém em 24/8/14)






Mais uma vez, da mesa do meu Café, nesta manhã do mês de Agosto que nos encheu de turistas como jamais tinha acontecido.
Na passada 4ª feira fui a Lisboa e fiquei espantado, é o termo. Mais doze Agostos como este e a gente andava para pagar a dívida... é uma maneira de dizer, claro, para uma dívida de mais de 220 mil milhões não há Agostos que cheguem...
Mas, pensando bem, quem os recebe melhor?
- Quem lhes oferece refeições tão boas e baratas? 
 - Quem lhes dá a provar um peixe grelhado como não há outro no mundo?
 - E as paisagens?
 - E o sol espelhado no estuário do Tejo?
 - E aquele Terreiro do Paço, porta aberta luminosa para uma cidade de sete colinas com um castelo pendurado no cimo de uma delas?
Mas neste Verão, que de tão arrependido nos tem poupado aos incêndios, lembrei-me de Manoel de Oliveira, o nosso já centenário realizador cinematográfico que apesar da idade ainda alimenta projectos de trabalho para o futuro e daí ter desabafado:


- “Em casa sobra-me espaço e na vida falta-me tempo” e eu acrescentaria… “Se calhar Deus é o Tempo”.

 É verdade, se eu tivesse que indicar uma qualquer entidade que correspondesse ao conceito de Deus, no sentido de gerador da vida, essa entidade, para mim, só poderia ser o Tempo porque de facto foi ele que a gerou com a sua infinita paciência a partir dos elementos que existiam no universo.


O grande cientista e Prémio Nobel, Richard Dawkins, no seu livro “O Gene Egoísta", apresenta uma explicação idêntica à de muitos outros cientistas nesta área:

 - Uma molécula, há biliões de anos atrás, adquiriu a extraordinária capacidade de fazer cópias de si própria, proeza tão improvável como a de sair a qualquer um de nós o Jackpot do Euromilhões, mas que aconteceu pela mesma razão que também a nós nos sairia o desejado prémio, até mais que uma vez, se preenchêssemos o respectivo Boletim todas as semanas durante 100 milhões de anos.
Denominou-se a molécula Replicadora e constitui-se, por essa “habilidade”, no clik para o despertar da vida que o Tempo permitiu e que, de formas muito simples e primárias, chegou àquilo que nós hoje somos… a lutar contra a falta do tempo, o tempo que falta ao Manoel de Oliveira e que eu percebo que me vai faltando a mim.


Ironia da vida, o mesmo Tempo que paciente e teimosamente levou biliões de anos para nos trazer ao local onde estamos, concede-nos agora um breve “piscar de olhos” para provarmos da sua receita.

Sábio, persistente e inflexível como só ele é, não se detém. Há muito que o clik ficou lá para trás mas ele, o tempo, não pára, esse é o seu segredo.


Incrédulo e perplexo, Charles Darwin, percebeu-o quando viu conchinhas do mar no cimo das montanhas na América do Sul a mais de três mil metros de altitude sem que ninguém as tivesse levado para lá.


Mas, de que falamos? Do tempo que levaram as conchas a chegar ao cimo dos montes ou do tempo que falta ao Manoel de Oliveira, me vai faltando a mim e um pouco a todos vós?

O Tempo… Ah! o Tempo… Chave da vida! - Vergo-me perante ti, agradeço-te a oportunidade mas não te perdoou teres-te esquecido de me avisar que ela era tão breve.


Site Meter