Largo do Seminário em Santarém |
HOJE É DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém em 12/10/14)
O difícil, aliciante
e irresistível exercício da futurologia constitui uma actividade mental
perigosa porque as nossas previsões podem traduzir, mesmo inconscientemente, os
nossos desejos, corresponder aos nossos interesses materiais, ideológicos ou sentimentais, condicionando e enviesando o comportamento dos outros na tentativa de “driblar”
o futuro.
Jesus, o homem da Nazaré, por exemplo, confundiu
os seus desejos com a realidade futura e enganou-se.
Acreditou no fim do mundo
e na vinda do Reino de Deus. Por isso, ou por um simples desejo de justiça
igualitária, alguns dos seus seguidores, os ricos, venderam tudo o que tinham,
distribuíram pelos pobres e ficaram em paz a aguardar o fim do mundo
prometido pelo mestre e que nunca chegou...
Mesmo enganando-se nas previsões de
fim do mundo, que não na sua mensagem de justiça e de amor, Jesus, terá
sido o homem, por causa dela, que mais influenciou os destinos de toda a
humanidade.
Falhou como futurologista, acertou em cheio no impacto da sua
mensagem.
Depois de Jesus muitos outros têm previsto o fim do mundo (a
mais apocalíptica das previsões) e, se continuarmos nesta senda corremos o
risco de, com previsão ou sem ela, ele acabar mesmo, pelo menos tal como o
conhecemos hoje.
Na realidade, todos os dias ele
acaba: para os que morrem, para as espécies que desaparecem, para as paisagens
que se alteram, mas isso já não é futurologia…
Menos perigoso, quase ingénuo ou
inofensivo, é um outro exercício de futurologia que consiste em fazer previsões
sobre aqui lo que teria sido o
futuro, que entretanto já aconteceu e por isso conhecemos se, à partida, a realidade
tivesse sido outra.
Como teria sido a vida dos
portugueses se dois dos políticos mais influentes após a revolução dos Cravos,
em 1974, Francisco Sá Carneiro e Adelino Amaro da Costa, não tivessem morrido
num acidente de avioneta na noite de 4 de Dezembro de 1980, vão fazer já 34 anos.
Como teria sido a minha própria vida
se tivesse conhecido trinta anos mais cedo a mulher que só agora, já fora do
tempo, se cruzou comigo?
Perguntas boas
porque não correm o risco de alguma vez serem respondidas...
Para além do prazer ou desprazer de
estar vivo, esta especulação sobre a nossa vida, pode constituir um ponto de
interesse da própria vida: exercita a imaginação, vai ao encontro dos nossos
desejos, mexe com os nossos instintos.
Há sempre razão, mesmo quando já não
há razão nenhuma, para estarmos vivos: o de nos “metermos” com a
nossa própria vida.
Entretanto, vivamos mais esta manhã chuvosa com a alegria própria dos dias de sol radioso.
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