visita Sócrates
Nunca nenhum político, de forma tão desabrida e calorosa disse o
que lhe ia na alma em frente das câmaras da televisão.
Desabafou contra juízes, comunicação social, jornalistas, os que
estão por detrás dos jornalistas, arrastado pelos sentimentos que o assaltavam à
saída da visita que acabara de fazer a Sócrates na cadeia de Évora.
Mário Soares, o homem e o político, se bem que sempre próximos
nunca estiveram tão longe um do outro.
Os seus quase 90 anos de vida libertaram-no totalmente e bem
pode vir agora o Presidente do Sindicato do Ministério Público dizer que foi
uma vergonha que ele está-se absolutamente nas tintas.
Mário Soares é o chefe da família socialista, o homem velho, de
muitas lutas, de vitórias e derrotas que decidiu com a sua acção, em momentos
cruciais, o destino do nosso país.
Esse passado ninguém lho tira, dá-lhe força, crédito, sobrepõe-no
a todos os outros políticos vivos e em função dele reivindica o direito de “partir
a loiça” toda esteja ela no armário da Justiça ou no da Comunicação Social.
Para ele acabou-se definitivamente o “politicamente correcto” ou
o que é “melhor para o partido”. Outros que tenham essas preocupações, ele é
hoje um homem prisioneiro de si próprio e de mais ninguém para gritar mais
alto os seus sentimentos e convicções morais e políticas.
A sua intuição política que o orientou sempre na vida como um
farol e decidiu das suas opções avessas a grandes calculismos, excepção feita a
quando teve que “meter o socialismo na gaveta”, remete para um tipo de homem
que faz falta à nossa sociedade onde tudo é dominado pela polidez e o cinismo de
palavras e atitudes.
O calor que ele ontem pôs nas respostas às perguntas com que os
jornalistas o bombardeavam, atropelando as palavras e disparando contra tudo e
contra todos, à frente das câmaras, em defesa do seu amigo Sócrates foi um espectáculo
de autenticidade daqueles que só se têm no recato de um pequeno grupo de
amigos.
Se alguns utilizam o tom sibilino das indirectas e subentendidos
para atacar o amigo Sócrates, então ele salta a terreiro com o vigor dos seus
90 anos, “desembainha a espada” e leva tudo à frente.
Ontem, em oposição frontal ao filho, João Soares, na disputa
Seguro/Costa, hoje em consonância com ele na defesa de Sócrates, Mário Soares
está cada vez mais igual a si próprio.
Irá deixar saudades.
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