Para mim, Sócrates é culpado. Não por causa dos indícios
que apontam para crimes que têm uma moldura penal de 2 a 12 anos de cadeia. Essa culpa
vai ter que ser dirimida em Tribunal e o elemento de prova não é, neste tipo de
delitos, fácil de fazer e sem provas não há crime.
Vamos pois respeitar nesta fase a presunção de inocência
que é um pilar do Direito na nossa sociedade a que me orgulho de pertencer.
Sócrates é culpado por ter governado este país sem o rigor que ele exigia e o povo merecia, especialmente a ele, político de esquerda não enfeudado aos interesses do grande capital financeiro.
Assisti aqui
em Santarém a uma acção sua de campanha eleitoral que ele viria a ganhar com a
maior maioria de sempre e o que lhe ouvi, e estive com atenção, foi um discurso
perfeitamente demagógico no qual Portugal iria ser um autêntico mar de rosas e
em que as pessoas só teriam que esperar as benesses da sua acção governativa.
Governar em demagogia é o pior crime que se pode fazer a uma sociedade que vive em democracia e elege pelo voto os seus governantes com base nas expectativas que lhes são criadas.
A forma como Sócrates veio a sair do poder em tensão
aberta com o seu Ministro das Finanças e reconhecendo o estado de banca rota a que
o país chegou com a sua liderança, foi patética e dramática e o abandono do país
para se fixar na cidade das Luzes como uma espécie de prémio atribuído a si próprio
teve laivos de traição.
O Partido Socialista é uma família, não tão velha como a
do Partido Comunista nem com o mesmo “cimento”, mas uma família e Sócrates foi
durante anos o seu membro mais destacado e importante.
Estes laços familiares vão resistir até ao fim, seja esse fim qual for, e dada a força que têm, detiveram Sócrates preventivamente por recearem que ele movimentasse a família para destruir a investigação.
O carácter de Sócrates defendendo-se dos seus adversários
e inimigos como um animal feroz criou muitos anti-corpos, mas enquanto se
pensou que essa defesa era legítima, os comportamentos e atitudes foram levados à
conta de líder que não vacila nos seus propósitos.
A prova dessa legitimidade para os seus indefectíveis
estará feita há muito tempo. Para os seus adversários também mas pela negativa.
Para os portugueses que têm dúvidas este processo
judicial irá desfazê-las mas para todos é um rombo na política e na democracia que vai levar tempo a reparar.
O escrutínio feito através dos partidos e da forma como é
feito não garante a qualidade necessária dos governantes. Percebe-se que os
melhores da nossa sociedade ou são afastados ou desinteressam-se da política e
isso pode ser fatal para o nosso futuro colectivo.
Não basta que sejam ambiciosos, bem falantes e animais ferozes.
Há aspectos de carácter e de competência que não estão a verificar-se.
Governar
um país é também, e acima de tudo, uma questão patriótica e a sensação que dá é
que ele está a ser esquecido pelos que lá estão e pelos outros, os que não querem ir para lá.
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