Mia Couto |
"Um país pobre é aquele que em vez
de produzir riqueza produz ricos"
Dizia Mia Couto que "um país pobre é aquele que em vez de produzir
riqueza produz ricos"e dizia mais que a produção de riqueza está acompanhada do pagamento de salários ao fim do mês para que outras famílias possam viver.
É precisamente o que não se tem visto ao longo das
últimas décadas em Portugal. Nunca se viram tantos ricos a
aparecer e, todavia, o país não passa da cepa torta. Isto tem sido
particularmente evidente nestes últimos três anos, não pararam de aumentar os
milionários enquanto a miséria se vai multiplicando a céu aberto.
Nos últimos anos não surgiu qualquer
grande investimento em Portugal, não foi criada uma nova empresa de sucesso,
não se lançaram produtos novos no mercado. Algumas grandes empresas deixaram de
o ser, empresas de referência definham, grandes empresas foram vendidas a quem
mais deu a troca de liberdade para aumentar preços e taxas. O país não cresceu,
a economia não se modernizou, o PIB encolheu mas há mais milionários.
Em Portugal já nem se fala de criação
de riqueza, dispensam-se os mais jovens e mais capazes apontando-se-lhes as
fronteiras, os mais ambiciosos e, para usar um termo muito na moda, os mais
empreendedores partem. Numa economia sem concorrência, onde a corrupção é um
meio de chegar a muitos fins, onde os governantes são personagens ridículas
como se vê na Justiça ou no Ensino vencem os mais espertos e perdem os mais
inteligentes, sobrevivem os mais fracos e partem os mais ambiciosos.
Elogiam-se as exportações mas não se
questiona o que se exporta, chama-se investimento a dinheiro que não trás know
how, não transporta capacidade de inovação, não procura criar riqueza, chama-se
investimento a uma aqui sição de uma
casa se for um chinês a comprar, mas se for um português já é consumir acima
das possibilidades. Manda-se um sector abaixo para acabar com a renovação das
escolas ou para se adiar o túnel do Marão, mas criam-se vistos dourados para os
chineses reanimarem o mercado imobiliário.
Não admira que os governantes ignorem
o PIB, a inexistência de casos de sucesso, a total ausência de investimento na
indústria portuguesa. O sucesso agora mede-se no desemprego que diminui porque
os jovens partiram, nas exportações que aumentaram porque as empresas ficaram
sem mercado em Portugal e exportam a qualquer custo, no equi líbrio
das contas públicas porque se reduziram grupos sociais à miséria.
É neste país pobre e podre que um
político odiado pela maioria dos portugueses, conhecido pela sua prosápia, vai a um parlamento dirigir-se aos
deputados eleitos pelo povo que os partidos da oposição criam menos empregos do
que a Remax.
Tem toda a razão, os partidos da oposição não compram submarino,
não escolhem os directores-gerais e os secretários-gerais corruptos, não
alimentam as gorduras do Estado. Os partidos da oposição não criam empregos e,
em contrapartida, os partidos do governo criam muitos empregos, enriquecem
muita gente mas não promovem o aumento da produção de riqueza. Como diria
Lavoisier nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma e o que este governo
tem feito não é enriquecer o país mas sim promover a transferência de riqueza
através da austeridade e, mais recentemente, através de esquemas e mecanismos
que estimulam e promovem a corrupção.
Do Jumento
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