Largo do Seminário - Santarém |
HOJE É
DOMINGO
DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém em
14/12/14)
Às vezes mais
apetecia não ter amigos quando, num qualquer momento da nossa rotina diária,
somos confrontados com a terrível surpresa de ver alguém que nos foi próximo, reduzido fisicamente daquela forma tão chocante como acontece com as vítimas
dos Acidentes Vasculares Cerebrais.
Ontem, de manhã, como de costume,
estava no Café que substituiu agora, em termos de rotina, o local de trabalho
onde a secretária deu lugar à mesa onde tomo um demorado pequeno-almoço
preenchido pela leitura do jornal.
A dado momento, algo me chamou a
atenção e levantando a vista da leitura reparei num senhor de idade, careca,
que tentava, de uma forma esforçada e balbuciante, cumprimentar alguém.
Quando me apercebi que era comigo
baixei a cabeça para retribuir o cumprimento e rapidamente regressei à leitura
do jornal mas de repente, como se um qualquer mecanismo dentro de mim tivesse
sido activado, levantei-me, dirigi-me à pessoa em questão e também eu, de forma
hesitante disse: mas… és o Arménio!
Envelhecido, com a voz entaramelada,
o braço direito imobilizado o meu amigo estava quase irreconhecível e
procurava, desesperadamente, que eu entendesse a sua explicação sobre o que lhe
acontecera porque ele não tinha sido o culpado…aqui lo
terá acontecido durante uma operação que deveria ter ocorrido de uma forma
normal, sem outras consequências e muito menos aquelas que aparentemente nada
tinham a ver com o assunto.
Isto soube eu pelo senhor que o
acompanhava…mas que me interessavam as explicações perante aquela situação de
um amigo que durante anos seguidos me tinha acompanhado na organização e
montagem da Cooperativa Lar Scalabitano para a concretização do maior
investimento em habitação social na cidade de Santarém?
Procurei sossegá-lo, afirmar-lhe que
tudo iria voltar ao normal com o tempo, a ginástica de recuperação e a sua
força de vontade mas, naquele momento, mandava a comoção e encostando a minha
cabeça à dele não pude evitar que os olhos se marejassem de lágrimas… Hoje, o Arménio,
ontem o Victor, entre eles o Pita Soares e outros que não conheço mas com quem
me cruzo na rua…
Aquele é o preço que muitos de nós
estamos a pagar por uma vida que, aparentemente, julgávamos sem riscos ou,
sabendo-os, nunca acreditámos que um dia seríamos nós a sofrer-lhes as
consequências.
O sedentarismo, os cigarros, o
stress, as análises que não se fizeram, os medicamentos preventivos que nunca
se chegaram a tomar e aquele maldito sofá, tão cómodo quanto apelativo
constituíram armadilhas que se foram somando umas às outras e a partir de certa
altura a nossa vida entra num jogo de roleta russa em que nunca sabemos o
momento em que o gatilho dispara a bala que nos há-de deixar naquele estado.
A vida do homem nunca decorreu sem
riscos, eles são inerentes à nossa própria existência de seres vivos e
extremando as coisas quase que poderíamos até dizer que nascemos para correr
riscos e em todo esse processo, os mais avisados, os mais hábeis, os mais
fortes e, principalmente, os mais afortunados, morrem mais tarde que os outros.
No caso concreto dos AVC(s) o que se
pede às pessoas é que, especialmente a partir de uma certa idade, vigiem o seu
corpo e tal como fazem com o automóvel submetam-no a revisões periódicas. Que
raio, ele não é menos importante que o carro e da mesma forma que falam com os
mecânicos na oficina conversem igualmente com os médicos e sigam os seus
conselhos, afinal para que servirá depois o automóvel se não podermos voltar a
ter o prazer de o conduzir?
A vida e a saúde não estarão nas
nossas mãos, acredito, mas será que não poderíamos ter feito mais qualquer
coisita? - E quando não o fizermos por nós por
quem o iremos fazer?
Para incapacidade já basta aquela que
a velhice quase diariamente, com pezinhos de lã, sorrateiramente, lá nos vai
acrescentando.
Cuidem-se, por favor, meus amigos.
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