Cerimónia da tomada de posse. |
O Gesto é tudo...
É um velho ditado português que eu recordo desde sempre. Não sei
se será tudo mas alguma coisa é e Alexis Tsipras teve o cuidado e a
coragem, como qui serem, em coerência
consigo próprio, de adoptar gestos muito significativos, o primeiro dos quais, para mim, na fórmula
de tomar posse:
- “Garanto em consciência que vou defender a Constituição e
servir sempre os interesses do povo grego”.
Na qualidade de ateu, que teve a coragem de assumir numa
sociedade generalizadamente cristã, não podia, evidentemente, jurar com a mão
espalmada sobre a Bíblia que não faz qualquer sentido para ele para além do
respeito que lhe merece em função dos seus compatriotas religiosos.
Depois, num segundo gesto, apresentou-se na cerimónia de tomada
de posse, não em mangas de camisa mas de colarinho desabotoado e sem gravata,
desta vez em sinal que não só não está comprometido com a sociedade dos
engravatados que levou o seu país à situação em que se encontra como também não faz
parte dela.
E continuou com mais outro sinal, fazendo tocar ao longo de todos os
momentos importantes do comício na Praça Omonia, numa banda sonora seleccionada, temas como “Bella Ciao” que é uma música
da Resistência italiana contra as tropas alemãs na II G.G. Mundial para lembrar que a Grécia não esquece.
Eu detesto o calculismo pérfido daquelas pessoas que incapazes
de mudar, mesmo perante uma situação de desastre, logo entram em prognósticos
fatalistas só porque fazem parte daquele grupo, cada vez mais pequeno, que
ainda não perdeu nada e a quem a desgraça dos outros são ocorrências próprias
da história presente do país.
Na Grécia, centenas de milhar de pessoas, incluindo velhos e
crianças, neste momento, por falta de comida e medicamentos, e não me digam que
é por sua má cabeça, estão a fazer um caminho apressado para a morte.
As primeiras medidas de Alexis Tsipras, como responsável eleito
para a governação, foi pensar nesta multidão de compatriotas em situação
desesperada como se tivessem a viver uma situação de fim de guerra devastadora
apenas com a diferença de que as ruas não estão esburacadas das bombas e os prédios
destruídos como Berlim no fim da guerra.
Quanto ao resto, uns e outros procuram sobreviver procurando
qualquer coisa por entre os destroços de uma cidade em ruínas e outros de uma economia destruída.
É este o “conto de crianças” a que se refere o nosso 1º Ministro
quando fala das promessas de Alexis Tsipras e são essas as palavras, “conto de
crianças” que constitui o sinal, o gesto que diz tudo sobre ele.
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