terça-feira, janeiro 27, 2015

A desproporção de forças é flagrante...
ALEXIS/ ÂNGELA














A Europa, curiosa, prepara-se para assistir ao combate. Ela, que para além de espectadora, é também parte interessada no desfecho da luta.

De um lado, o jovem grego desafiador, Alexis Tsipras. Do outro, a veterana, experimentada, dominadora, amplamente favorita, Ângela Merkel.

A desproporção de forças é avassaladora mas a claque do jovem Alexis é ruidosa, está entusiasmada, jogam no tudo por tudo. A restante assistência também torce por ele embora esteja apreensiva. O nosso 1º não tem dúvidas, está ao lado da Ângela considerando mesmo que o outro tem um jogo de criança.

O duelo vai travar-se numa loja de porcelana chamada zona euro e Merkel vai usar todo o seu peso consciente que está de que, se o fizer, esmagará o adversário e a Grécia entrará em ruptura dentro de semanas empurrada, de forma caótica, para fora da zona euro ou, então, continuará a aceitar os ditames da austeridade como até aqui.

No entanto, a força e a supremacia de Ângela é também a sua fraqueza. Uma vitória esmagadora fará recair sobre ela o odioso dos vencedores implacáveis. Para começar, e de forma simbólica, Alexis foi depositar flores no Memorial Nacional da Resistência, em Kasariani, um subúrbio de Atenas, onde centenas de resistentes comunistas foram executados pelas tropas nazis em Maio de 1944, para que Berlim saiba que os gregos não esquecem.

Tsipras, por seu lado, tem de adoptar a confrontação gradual, a lembrar Mohamed Ali quando dançava à volta dos adversários, trocando os pés, dando tempo ao tempo para que todos percebam que o drama da Grécia é também o nosso drama.

Alexis tem de negociar consciente que também ele pode precipitar o fim da unidade europeia e a tentação é grande depois das promessas que fez a uma sociedade que está com 3 milhões de pobres e uma classe média a desfazer-se e não fora uma lei que proíbe a penhora de casas habitadas pelos seus proprietários e muitas das ruas de Atenas seriam já dormitórios públicos.

A Alemanha tem de pensar bem a sua reputação. Ainda "ontem" os seus soldados esmagavam as populações dos países vizinhos e já hoje os cilindra com a sua austeridade traduzida em metas orçamentais que implicam cortes terríveis nos programas sociais de apoio às populações sem que, por outro lado, promova o desenvolvimento económico da Europa gastando dinheiro dos seus enormes excedentes comerciais muitos deles obtidos vendendo, precisamente, para os países aos quais aperta o garrote. Só para a Grécia foram 5 submarinos...

Não está em causa o equilíbrio das Contas que deve existir em todos os países da Europa, mas sim a forma gradual e controlada em que isso deve acontecer quando esses mesmos países têm que, em simultâneo, suportar o pagamento de juros anuais de montantes incomportáveis.

Há uma "convivência" desleal na Europa entre uma economia que vende Mercedes e BMW e outras carapaus, com valores acrescentados muito diferentes.

Os próximos seis meses serão decisivos mas nem será preciso tanto tempo. As dívidas seguem para uma conferência de líderes europeus e as dúvidas centram-se em dois deles: Ângela e Alexis, os mais radicais.

Infelizmente, há outras ameaças para a Europa que vêm de um Reino Unido que ameaça sair, da França que ficará isolada com a fascista da Marine Le Pen e de uma Espanha com o Podemos que é uma frente de descontentes sem projecto.

Quem ainda se lembre um pouco do que estudou da história da Europa, desde os tempos do fim do Império Romano do Ocidente, quando ruiu, curiosamente, à espadeirada dos antepassados dos alemães, os visigodos, que eram então os bárbaros, sabe que é um espaço de conflitos permanente e nós, que ainda fomos contemporâneos do último e mais mortífero de todos, desejaríamos “passar pelos intervalos dos pingos destas chuvas mortíferas” debaixo do guarda chuva da Comunidade Europeia, o mais corajoso e ambicioso de todos os planos de paz na Europa.

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