sábado, janeiro 31, 2015


Subsidiozinho

do paralítico







É injusto o que está a acontecer ao povo grego, e digo povo grego e não Grécia porque dentro desta cabem muitas realidades, algumas das quais, debaixo da mesma bandeira e com a mesma nacionalidade, fortemente responsáveis pelo que aconteceu ao país.
Já disse aqui que, dos muitos milhares de milhões emprestados à Grécia, apenas 10% foram utilizados em Investimento Público, ou seja em benefício do povo.
O restante foi para pagar ao FMI e aos bancos europeus credores, entre os quais alemães.
Estamos, portanto, numa situação em que os sacrifícios das pessoas foram usados como moeda de troca para obter empréstimos que beneficiam outros que não eles.
Na verdade só assim se explica que 6 anos depois das ajudas financeiras e perdões de dívida, os resultados que estão à vista sejam estes, sendo certo que nada disto poderia ter acontecido não fora a cumplicidade das elites gregas, entre as quais a dos grandes armadores gregos que se recusaram a pagar impostos sob a ameaça de desviar para outros portos do Mediterrâneo os seus navios.
Comparados com estes o paralítico que passa a pé em frente da casa do antigo ministro da Defesa porque subornou um médico para lhe conceder um atestado que lhe permitiu obter mais um subsidiozinho, é gota de água no oceano.
Mas sim, há muitos subsiodizinhos a mais na sociedade grega.
A cultura do pequeno envelope que passa por debaixo da mesa, antiga herança dos tempos do domínio turco que se registou desde o Sec. XIV até meados do XIX, equivalente em maior escala à tradicional “cunha” bem portuguesa, constitui a pequena grande corrupção.
Não é apenas o somatório de pequenos montantes que são desviados dos circuitos normais e entram indevidamente nos bolsos daqueles que, pelas funções, estão em condições de venderem favores, é o mal que se abate sobre os cidadãos que percebem que, afinal, se pode viver e triunfar na vida, não pelo trabalho, competência e mérito, mas pelo simples tráfego de favores. É desmoralizante para qualquer sociedade de um país democrata da Europa civilizada.
Os gregos podem concentrar o seu ódio e revolta na troika e, acredito muito justamente, mas esta pequena corrupção tão generalizada no seu seio não pode deixar de constituir um ferrete, um problema de consciência social para o qual todos são arrastados impotentes que são de lutar contra ela.

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