Agora, minha filha, nós vai fazer força... |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 185
Viu-se Coroca com fama de parteira
abalizada antes de pegas menino, antes de ter começado a partejar. A par dos
rumores, a velha Vanjé dela se lembrara na hora da necessidade quando a nora
começou a sentir as contrações.
A
própria Vanjé tinha certa experiência desses apuros pois parira nove filhos, os
cinco vivos e os quatro que não se criaram. Nos campos de Maroim ajudara mais
de uma vez a comadre Desidéria na melindrosa empreitada, inclusive no parto da
outra nora, Dinorá.
Nem por isso se atrevia socorrer sozinha a
padecente Lia, tão moderna ainda e mal refeita dos vexames sofridos; de noite
sonhava com o marido amarrado ao tronco junto ao curral, acordava em sobressalto:
segurara o menino na barriga por milagre.
Vanjé temia parto difícil, complicado,
exigindo para um bom sucesso a mão habilidosa e firme de parteira entendida, capaz e expedita.
Tendo perguntado, soube de Coroca, uma competência.
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Estendida sobre as tábuas do catre, os
olhos esbugalhados, Lia não parava de gemer e de reclamar a presença do marido.
Ambrósio e Jãozé iam e vinham inqui etos; Diva não sabia o que fazer; Dinorá embalava
o filho, meio aparvalhada. Vanjé se viu sozinha, não conseguia controlar a
insegurança e o mau presságio.
Cadê essa comadre que não chega? Apenas
Nando na peça ao lado dormia sem tomar conhecimento do que estava acontecendo.
Agnaldo entrou pingando água, andou
apressado para Lia, tomou-lhe a mão, sentou-se a seu lado. Ao vê-lo, a chorona
afrouxou o corpo, relaxou, sem deixar de gemer, Vanjé cobrou do filho:
-
E a comadre?
-
Tou aqui , sinha Vanjé. Boa noite a
todos.
Coroca aproximou-se do catre, ordenou a
Agnaldo:
-
Vancê, moço, dê o tora, suma daqui ,
deixe a pobre em paz.
Com tu de junto ela não vai parir nem
hoje nem nunca. – Estendeu a ordem ao velho Ambrósio e a Jãozé: - Vancês
também, não quero homem corvejando nesse quarto.
Como uma sentinela, permaneceu de pé ao
lado da cama até vê-los sair. Somente então voltou-se para Diva e comandou:
- Menina, traga o fifó, alumie aqui . Ocupou o lugar deixado pelo rapaz, sorriu para
Lia, com as mãos mediu-lhe o ventre e o volume das contrações:
-
Agora, minha filha, nós vai fazer força que é pra esse capeta nascer logo.
Tenha medo não, parto não é doença. Acarinhou-lhe o rosto: - Já escolheu o
nome?
- Inda não senhora.
Coroca assumiu o comando como se nunca
tivesse feito outra coisa em sua vida senão aparar menino, fato trivial, tarefa
corriqueira.
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