E não deve, dona Coroca? |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 181
A
capa de toucinho que cobria os porcos tornava-os imunes às picadas das
serpentes que eles matavam e comiam. A pedido dos novos moradores, Guido e
Lupiscínio planejavam o assentamento de um pontilhão na parte mais estreita da
correnteza.
Tendo perdido mais de uma rês na
enxurrada, o coronel Robustiano de Araújo demonstrava
interesse pelo projecto. Também o Capitão.
A família de José dos Santos, procedente
de Buqui m, somava seis parentes:
ele, a mulher, o filho homem e as três moças. A de Altamirando, constituída
pelo casal e uma filha, viera do sertão tocada pela seca; a filha, Ção, lesa de
nascença, completara treze anos.
De qui nze
em qui nze dias Altamirando comprava
um boi no curral do coronel Robustiano - a crédito, para pagar na qui nzena seguinte - e o abatia para vender a carne fresca
aos domingos e salgar a sobra.
Da sociedade com Ambrósio, José dos Santos
tencionava construir uma casa de farinha: plantações de mandioca vicejavam
impetuosas.
- Inda outro dia - prosseguiu Lupiscínio - tirante os passarinhos, as cobras e os burros de tropa, não se via outra raça
de bicho solta por aqui . Se lembra,
dona Coroca? Hoje...
Apontava
o bando de frangos e frangas fugindo alvoroçadas.
A
galinha sura, propriedade de Merência, ciscava cercada por numerosa ninhada de pintos
de pescoço pelado. Sob a jasqueira, nas proximidades do armazém de Fadul, uma
porca parida fuçava frutos podres à frente de um renque de bacorinhos.
-
Se me lembro... Gente trabalhadeira essa de seu Ambrósio, sem
desfazer dos demais. Gente boa. Inda hoje sia Vanjé amanheceu lá em casa levando um capão gordo. Nem que me devesse obrigação.
-
E não deve, dona Coroca?
- Quem deve a eles sou eu e não tenho
com que pagar. Olhou para as mãos ressequi das
de dedos longos e magros. - Só Deus sabe.
Elogiaram os sergipanos e os sertanejos,
falaram disso e daqui lo, trocaram
pontos de vista culinários ao sabor da conversa: ociosa na manhã de domingo.
Para Lupiscínio não havia carne de ave que se comparasse com a de galinha sura.
Coroca discordava: no seu opinar a
galinha-d’angola levava vantagem sobre todas as demais. Zilda, mulher do
capitão Natário, fazia um prato chamado frito de capote: quem prova dele nunca
mais esquece!
Capote, um dos nomes da galinha-d’angola que
tinha para mais de vinte e era arisca: preferia viver no mato, não se
acostumava no terreiro.
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