domingo, fevereiro 22, 2015

Largo do Seminário em Santarém
HOJE É DOMINGO

(Na minha cidade de Santarém em 

22/2/15)














Terá sido sempre assim mas agora acentua-se a tendência da componente semântica na política. A palavra e a oratória são os instrumentos que com a intensificação dos meios de comunicação social que os difundem criam maior impacto junto de leitores, ouvintes espectadores todos nós que, afinal, consumimos política.

Chamam-lhes, agora, palavras “fortes” tais como “dignidade”, “austeridade”, “troyka” mas, de todas elas a que mexeu mais com as pessoas foi a “troyka”.

Depois, temos ainda as mensagens ocultas, as palavras que não se dizem porque ofendem a sensibilidade de quem as escuta.

O polícia mau da Europa, o Sr. Schauble, veio dizer, em conclusão das negociações com a Grécia, que “governar é um encontro com a realidade”, o que ninguém contesta pela lógica e bom senso da afirmação mas... o que ele quis mesmo dizer “é que governar, hoje, na Europa, é um encontro com ele”. Ele é, de facto, a realidade.

Mas, terá ele cedido alguma coisa nestas negociações com a Grécia?

- Sim, cedeu na semântica. Se vocês não gostam da troyka acaba-se com essa palavra mas continua o Fundo Monetário Internacional, o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia.~

A palavra troyka, espécie de abreviatura, neste caso, das três instituições referidas, foi diabolizada, odiada, pelos povos grego e português, principalmente, vítimas das suas ordens, exigências e intransigências.

Nunca ninguém se referiu ao despotismo dos credores, os que nos emprestaram o dinheiro e agora apareciam a cobrar enviando, no seu lugar, a troyka.

Nós lembramo-nos bem deles. Quando apareceram ao princípio, a televisão foi esperá-los ao aeroporto e acompanhavam-nos por todo o lado e eles, silenciosos, caminhavam com enormes pastas nas mãos, aspecto impassível de executores determinados, indiferentes às desgraças que causavam às pessoas.

Se o governo cortava subsídios, baixava salários ou despedia funcionários o culpado era a troyka e o ódio foi crescendo... “abaixo a troyka”, “que se lixe a troyka”.

Nas manifestações, a principal palavra de ordem era contra a troyka. Pelas Avenidas e Praças, em desfiles e concentrações, em enormes letreiros o seu nome era mostrado, gritado, vociferado como o inimigo a abater.

Por isso, a grande vitória do Cirysa foi ter acabado com a troyka. Não se fala mais nela, o povo, finalmente, pode dormir descansado, mesmo que tudo o resto continue mais ou menos como antes, sim, porque governar, como disse Schauble, é um encontro com a realidade e a realidade é ele.

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