Na hora de fazer bem que tu gostou, não foi? |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 186
Vanjé não mais se achou sozinha, readqui riu a confiança, colocou-se às ordens da comadre.
Coroca perguntou pela garrafa.
Diva trouxe uma garrafa vazia, ainda com
cheiro de cachaça.
- Sopre nela de com força. - Recomendou Coroca
passando a garrafa às mãos de Lia para logo retomá-la: - Não é só uma vez, é
sem parar. Vou fazer, veja como é:
Ensinava a maneira correta:
- Espie. Tome fôlego bem fundo, assim
como eu fiz, e sopre enquanto agüentar. - Tomara fôlego, soprara na abertura do
gargalo: - Depois faça de novo, não pare de soprar.
Mandou que fervessem água num panelão de
barro para o banho de assento necessário para acelerar os puxos e apressar parto:
- Não há coisa melhor.
Reclamava de Dinorá ali parada, o menino
ao colo, inútil:
- Que parvoíce é essa, mulher? Bote o
menino pra dormir, venha ajudar. Traga a bacia, ponha aqui
pertinho.
Coroca nunca fizera um parto, porém, nas
pensões de raparigas, presenciara um sem-número deles, fáceis e difíceis.
Ajudara as respeitáveis comadres na
preparação do despejo, admirando os conhecimentos e a prática das sábias
senhoras.
Mas vira também crianças nascerem mortas
ou morrerem ao nascer nas mãos de curiosas sem competência, por descuido ou
ignorância.
Proclamavam-se parteiras, eram fazedoras
de anjos e ainda por cima cobravam e recebiam. Coroca costumava dizer a rir que
ninguém testemunhara o nascimento de tantos filhos da puta quanto ela. Mas, com
a responsabilidade de parteira, de trazer para a vida ou condenar à morte
prematura, aquele era primeiro.
E logo de mulher casada.
Sentia um frio subindo das entranhas
para o peito, mas não dava demonstração, não deixava perceber. Aparência tranqui la, despreocupada, demorava-se numa conversa
correntia sobre os roçados e os bichos de criação, as galinhas poedeiras e a
porca prenha. Interrompia a prosa para exigir que Lia continuasse soprar na
boca da garrafa com força e sem descanso.
As contrações amiudavam-se, tornavam-se
mais prolongadas, a moça sentia-se rasgar por dentro: ai, que vou morrer!
Ainda assim Coroca a fez rir em meio às
dores:
- Na hora de fazer, bem que tu gostou, não foi?
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