terça-feira, fevereiro 03, 2015

Não criei filho para assassino
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)




Episódio Nº  164















Brusca, pouco elucidativa, não houvera contudo insolência ou desafio na resposta; apenas reserva, receio, quem sabe? O velho baixara a cabeça quando o filho o atropela, tomando-lhe a palavra – precedência e respeito jaziam na danação de Maroim.

Natário não se deu por achado, não se afetou. Conhecia os relatos de cor e salteado, idênticos na peripécia principal. A quantos vira chegar, a arma de fogo ainda fumegante?

Vadiou a vista de um a outro, medindo e pesando os quatro homens, qual deles havia atirado? Não descartou o rapazola: no calendário do vilipêndio conta-se a idade em dobro.

 - Por isso e nada mais, bem respondido. Guarde sua conveniência, não sou padre confessor. Quando a gente desembarca por aqui, tá nascendo de novo, não tem contas a prestar. Pode até mudar o nome, se quiser.

Foi então que o homem mais moço se desprendeu da mão da mulher e andou em direção a Natário:

 - Tocaram com a gente, botaram pra fora. Nós não veio porque quis. Veio a pulso.

 - Cala a boca! - ordenou o mais idoso, o que falara antes.

O velho esboçou um gesto, nem o completou. O Capitão desceu o olhar para a repetição no ombro do rapaz mas não chegou a fazer pergunta ou comentário.

O moço, sem atender ao gesto do pai, à ordem do irmão, abriu o peito, libertou o afrontamento a consumi-lo:

- Não se deu como vosmicê tá pensando. Elas não deixaram...
- apontou a velha e a grávida, mãe e esposa:

- Bem que eu quis acabar com o arrenegado. - Olhou para a palma da mão:

- Aí, elas amarraram minhas mãos! Consumiram minha tenção!

Arrebatado, quisera na ocasião tomar da arma e fazer uma desgraça. Casado de pouco, a mulher nova, bonita e prenha agarrou-se em seu pescoço: pensa em mim e no menino!

 A mãe arrebatou-lhe a repetição, preferia morrer a ter filho criminoso, preso ou fugitivo da polícia.

— Não criei filho para assassino nem para morrer na mão de pistoleiro. - Assim tinham morrido outrora seu pai e seu irmão, de morte matada, no mesmo inútil desafio.

Entre as duas, esvaziaram-lhe o ânimo, sobrou apenas a ameaça aos quatro ventos. Para o Senador pouca diferença existia entre a ameaça e a tentativa de consumar o crime, cuja responsabilidade era de todos juntos e de cada um em separado.

Justiça de Salomão, ditada na cerca do curral.

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