Os cacaueiros novos floresciam nas roças próximas. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 178
Para não ficarem ao relento nos primeiros dias, aconselhou o barracão onde os tropeiros e os demais passantes se acolhiam, posto de muito movimento durante a noite e em certas noites salão de dança e de folia.
Tição, sempre sorrindo, lembrou que as mulheres,
se qui sessem poderiam se acoitar
numa palhoça abandonada, a que fora de Epifânia; uma novata ocupara a de
Cotinha.
Sobretudo para a grávida e a outra com o
menino, melhor que o barracão. Só tinha de ruim ficar na Baixa dos Sapos,
reduto das raparigas.
- O que é que tem? - Disse Vanjé.
Coroca apareceu para comprar querosene,
estranhou o movimento àquela hora.
- São os sergipanos que o Capitão
mandou. Vão botar roça de mandioca do outro lado do rio. Plantar feijão e
milho.
- Tava precisado.
Do Caminho dos Burros, da Baixa dos
Sapos acorrera mulheres e homens, bisbilhoteiros. Ofereceram préstimos,
trouxeram de comer. O menino passou de braço em braço.
5
Ao desembarcar do carro de boi, Zilda,
mulher de Natário, não foi saudada com foguetes apenas porque o Capitão
esquecera de prevenir Fadul com a necessária antecedência.
Nem por isso o acontecimento deixou de
ser tão celebrado quanto a chegada dos sergipanos, dois meses antes. A notícia
de que o capitão Natário da Fonseca resolvera finalmente começar a construção
de sua moradia causara sensação, marcava mais uma etapa na vida de Tocaia Grande.
Os cacaueiros novos floresciam nas roças
próximas, às vésperas da primeira safra.
Dias antes, Balbino e Lupiscínio abriram
uma picada e subiram o morro a fim de estudar a localização da casa; Bastião da
Rosa e Guido ocupavam-se do cocho e das barcaças na Fazenda da Boa Vista.
Zilda viera para decidir com pedreiros e
carpinas sobre o conjunto e os detalhes da obra. Obra de vulto, o proprietário não
era um qualquer e possuía família numerosa, mulher e oito filhos, cinco
legítimos, três adoptados.
Curiosamente os oito se pareciam demais uns
com os outros. Zilda não fazia distinção entre legítimos e adoptados como se
houvesse parido todos eles.
Quando o carro de boi gemeu ainda na
distância, moradores acorreram em alvoroço ao descampado para saudá-la. Mas
Natário, à frente da junta de bois, cavalgando a mula preta num trote lento,
dirigiu a comitiva para a casa de madeira onde viviam Coroca e Bernarda. As
duas aguardavam na porta.
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