quarta-feira, fevereiro 18, 2015

Os Sergipanos! - Bradou o turco à toa.
TOCAIA GRANDE
( Jorge Amado)

Episódio nº 177
















O turco relanceou o olhar de um a um:

- Tão vindo de Sergipe?

- Inhô sim.

Deu-se então algo que os corumbas não entenderam: o homenzarrão pôs-se de joelhos, elevou as mãos aos céus, clamou em árabe: falava com alguém de sua confiança, era com Deus.

 O rosto jubiloso, frases de louvor: compadre Natário não faltava jamais com a palavra. De manhã prometera enviar em breve famílias sergipanas para povoar Tocaia Grande. A tarde ainda não caíra e o primeiro contingente já chegara naquele mesmo dia, louvado seja Deus!

Levantou-se e, para demonstrar a satisfação que o empolgava, começou por oferecer cachaça aos homens. Considerando, a seguir, a velha, a parida, a prenha e a donzela, foi buscar nos seus guardados uma garrafa de licor de jenipapo, sobra das muitas preparadas pela finada Cotinha para as festas de junho no passado inverno.

 Serviu à parida e à donzela, a prenha pediu água para matar a sede, a velha preferiu o gole de cachaça. Contando com o menino de colo somavam oito, mas informaram que faltavam os dois mais moços, tinham escapado para tomar banho.

- Os sergipanos! - Bradou o turco à toa.

Colocou-se às ordens. A terra estava ali, sobrando, bastava atravessar o rio. Ponte não havia, nem canoa, a passagem era por cima das pedras no lugar da correnteza, no inverno fazia-se mais difícil devido às chuvas.

Terra da melhor qualidade à espera de quem a cultivasse.

— E não tem dono? De verdade?

— Agora tem, são os amigos, é só escolher o pedaço que quiser. Não foi o que o Capitão disse?

- Ele é fiscal, tabelião?

- Como se fosse.

João José continuava com um espinho na garganta:

- E pra quem nós vai vender?

O turco abriu os braços desmedidos:

- Por detrás da mata é tudo roça de cacau começando a dar.

Freguês não vai faltar.


Assim lhe afirmara o compadre ainda naquela manhã e somente um maluco se atreveria a duvidar do capitão Natário da Fonseca.

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