Os Sergipanos! - Bradou o turco à toa. |
TOCAIA GRANDE
( Jorge Amado)
Episódio nº 177
O turco relanceou o olhar de um a um:
- Tão vindo de Sergipe?
- Inhô sim.
Deu-se então algo que os corumbas não
entenderam: o homenzarrão pôs-se de joelhos, elevou as mãos aos céus, clamou em
árabe: falava com alguém de sua confiança, era com Deus.
O
rosto jubiloso, frases de louvor: compadre Natário não faltava jamais com a
palavra. De manhã prometera enviar em breve famílias sergipanas para povoar
Tocaia Grande. A tarde ainda não caíra e o primeiro contingente já chegara
naquele mesmo dia, louvado seja Deus!
Levantou-se e, para demonstrar a
satisfação que o empolgava, começou por oferecer cachaça aos homens.
Considerando, a seguir, a velha, a parida, a prenha e a donzela, foi buscar nos
seus guardados uma garrafa de licor de jenipapo, sobra das muitas preparadas pela
finada Cotinha para as festas de junho no passado inverno.
Serviu à parida e à donzela, a prenha pediu
água para matar a sede, a velha preferiu o gole de cachaça. Contando com o menino
de colo somavam oito, mas informaram que faltavam os dois mais moços, tinham
escapado para tomar banho.
- Os sergipanos! - Bradou o turco à toa.
Colocou-se às ordens. A terra estava
ali, sobrando, bastava atravessar o rio. Ponte não havia, nem canoa, a passagem
era por cima das pedras no lugar da correnteza, no inverno fazia-se mais difícil
devido às chuvas.
Terra da melhor qualidade à espera de quem
a cultivasse.
— E não tem dono? De verdade?
— Agora tem, são os amigos, é só
escolher o pedaço que qui ser. Não
foi o que o Capitão disse?
- Ele é fiscal, tabelião?
- Como se fosse.
João José continuava com um espinho na
garganta:
- E pra quem nós vai vender?
O turco abriu os braços desmedidos:
- Por detrás da mata é tudo roça de
cacau começando a dar.
Freguês não vai faltar.
Assim lhe afirmara o compadre ainda
naquela manhã e somente um maluco se atreveria a duvidar do capitão Natário da Fonseca.
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