segunda-feira, fevereiro 09, 2015

Pressentimentos









Estávamos a 87 minutos do fim do jogo, o meu Sporting dominava, as críticas iriam ser-lhe favoráveis não obstante o empate de 0-0, o recorde de assistências do Estádio tinha acabado de ser batido, havia paz no espírito dos Sportinguistas.

Mas, surpreendentemente, um jogador do Benfica comete uma gafe, entrega a bola ao avançado do meu Clube que corre e remata para defesa difícil do guarda redes Artur e recarga vitoriosa de um defesa que vem de trás a acompanhar a jogada e não perdoa.

Acabou-se a tranquilidade, as hostes sportinguistas exultam, um adepto desequilibra-se e cai para dento do fosso, o meu Presidente, no banco, salta e abraça-se aos companheiros, os poucos minutos que faltam para o jogo acabar parecem ser suficientemente escassos para garantir a vitória final.

De repente, olho para o canto superior esquerdo do ecrã da televisão e vejo 4 minutos de prolongamento, uma eternidade, o Sporting só aguentaria 3.

O pressentimento que me assalta é profundo e definitivo. O 4º minuto iria ser fatal.

Eu não sei do que são feitos os pressentimentos mas em mim parecem-me ser uma estranha e maldita capacidade de adivinhação tão forte que, ela própria, por si, é capaz de forjar os acontecimentos.

Por outras palavras, o golo do empate que o meu Sporting ontem sofreu injustamente, como se nestas coisas dos futebóis houvesse justos e injustos, ao 94º minutos só aconteceu porque eu o pressenti.

A carga emocional gera energias, umas vezes positivas outras negativas, estas mais poderosas porque o fatalismo se impõe ao triunfalismo da mesma forma que as forças do mal são superiores às do bem.

Quando vi os jogadores do Sporting atrapalharem-se atabalhoadamente em frente do Rui Patrício e finalmente a bola entrar dentro da baliza, precisamente antes do apito final, ao 94º minuto, foi qualquer coisa do “déjà vu” porque surpresa mesmo tinha sido o golo do Sporting aos 87 minutos devido a um deslize de um jogador do Benfica.

Às vezes penso que uma equipa de futebol, destas de 1º plano, que envolvem em torno de si sentimentos de centenas de milhar ou mesmo milhões de pessoas, com cargas emocionais incalculáveis, poderá ter uma vida própria como aqueles bandos de estorninhos que evoluem nos céus ao sabor de caprichos invisíveis e que ontem terminaram por levar a bola, num movimento errático, para o interior da baliza do meu Sporting.

Por favor, não queiram explicar o desfecho daquele jogo de ontem com razões de natureza futebolística... que o treinador do Sporting deveria ter usado a táctica conhecida do autocarro...

Então não viram que os jogadores da minha equipa eram tantos em frente da baliza que até se atrapalharam uns aos outros?... Não viram?...

Autocarro? Ontem, ao 94 minutos, só se fosse a Estação de Santa Apolónia com a praça de táxis e tudo lá à frente...

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