Sorri ... de quê? |
Maria Luís
A nossa Ministra das Finanças, Maria Luís, teve ontem o
seu momento de glória, à direita da cadeira de rodas de Shauble, apresentada
por este como a representante de um país que foi um caso de sucesso na aplicação
do programa de austeridade da responsabilidade da Alemanha.
Shauble ganhou. A sua política de austeridade imposta à
Europa para a meter na ordem do equi líbrio
dos Orçamentos foi um sucesso. A seu lado, silenciosos, todos os países vítimas
dessa austeridade e um deles, Portugal, não se limita ao silêncio cúmplice, está
presente com a sua Ministra das Finanças para se afirmar como uma das heroínas
desse sucesso.
A destoar, apenas a Grécia mal comportada que insiste
que a política de austeridade que lhe foi imposta, destruiu a sua economia, deu
cabo da classe média e arrastou milhares de gregos para a miséria.
Maria Luís sorri, disfarçando a vaidade que lhe vai por
dentro, ela que era apenas uma desconhecida Secretária de Estado do todo-poderoso
Ministro Gaspar, esse sim, credenciado pela Europa como detentor do segredo do êxito
da austeridade.
Falhou, foi de novo para as Instâncias Europeias
deixando atrás de si uma carta a reconhecer que tinha falhado.
Avançou Maria Luís para o lugar pela simples razão que
era da confiança de Passos Coelho de quem tinha sido professora e, por outro
lado, estava por dentro das “contas” até porque já lá estava...
Três anos de Troyka foram ontem coroados como a chave do
sucesso para a crise afirmada publicamente nas televisões da Europa pelo alemão
Shauble com um país a seu lado para comprovar que ele estava a falar verdade.
Em Portugal, muitos portugueses que não estão esquecidos
das humilhações que representaram os funcionários da Troyka, sentem-se
envergonhados com aquela demonstração de vassalagem.
Era a dignidade de um povo com oito séculos de existência
que estava em causa. Um
país tutelado, com perda de soberania, que ali estava representado por uma
senhora que sorria, orgulhosa, para o seu senhor.
O povo deste país sempre fez sacrifícios, a sua vida ao
longo dos tempos, por erros crassos dos seus governantes, foi sempre aqui lo que a sua história mostra: santos, heróis,
aventureiros e um povo corajoso que sempre pagou o preço de todos os disparates
dispersando-se pelo mundo e criando uma diáspora como não deve haver outra.
Mais uma vez, chegados como foi, a outra banca rota, sem
dinheiro para pagar o funcionamento do Estado e sem ninguém que nos qui sesse emprestar, entregamo-nos às cegas nas mãos
dos credores com a surpresa de um novo governo, o do Passos Coelho, cuja
ideologia era a dos próprios credores, mais ainda, tudo o que eles nos queriam
fazer ainda era pouco... ajudou-nos o Tribunal Constitucional.
É sempre possível, sem grandes conhecimentos ou rasgos
de imaginação, equi librar as contas
públicas de um país. Basta que desprezemos os custos sociais.
Salazar, em 1929, perante a bagunça que ia nas finanças conseguiu-o
facilmente: aumentou os impostos, cortou nas despesas e montou a PIDE para o
segurar no poder e os portugueses de então mergulharam na paz e tranqui lidade do silêncio e da ignorância.
No Portugal da Maria Luís, que ela apresenta como um
caso de sucesso, temos 598.581 desempregados inscritos nos Centros de emprego, realidade muitos mais, 200.000 fugidos dos seu país,
aconselhados a ir embora pelo Chefe do Governo, uma geração dos 60/70 anos que
funciona, a custo, como “almofada social” para filhos e netos e um estado
social que na Saúde, Educação, Justiça rebenta pelas costuras... e uma economia a
crescer menos.
Maria Luís, afinal, sorri... de quê?
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