Terra de fartura , benza Deus. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 175
Os retardatários juntaram-se aos velhos.
Parados sob o sol na curva da estrada, fitavam a terra da promissão, olhos
presos nos morros e nas palhoças, corações descompassados.
Vacilavam entre a descrença e a segurança,
sentiam medo, tinham dúvidas mas buscavam despir-se dos padecimentos e da
amargura.
Agarravamse às palavras do Capitão: terra
fértil e abundante.
- A terra sendo boa nós tá como quer.
- Terra de fartura, benza Deus. Basta
ver a força dos pés de pau.
- Nós vai precisar de muito muque para
abater essa mata.
- Acho que o homem...
- O Capitão! - Vanjé renovou a
advertência.
- ... acho que ele tava falando das terras do
lado de lá do
rio. - Agnaldo, o dos bolos de
palmatória, apontou para o cerrado na margem oposta: - É só roçar e plantar.
- Tomara seja. É mais melhor. Ainda
assim, Jãozé persistia na dúvida, um pé atrás: - Só que não tem a quem vender.
- O Capitão disse que não tarda ter.
- Deus queira.
- Há de querer.
Recomeçaram a marcha, na frente o velho
Ambrósio com o
bordão, restaurado no respeito e no
mando. Vanjé encarregou-se do menino para que a nora pudesse ir de mãos dadas
com o marido.
Agnaldo ofereceu o braço à prenha
extenuada e ofegante:
- Nós tá chegando, Lia. Falta pouqui nho. - Não fosse ela parir antes da hora. - Por
que tu tá chorando?
- É de contente.
- Donde será que fica a casa do gringo?
Diva, a mocinha de tranças, respondeu à
pergunta do irmão:
- Devera ser aquela. - Indicava com o
dedo a oficina vistosa em pedra e cal.
- Vambora, gente!
Lá se foram, cansados corumbas
sergipanos, entre o temor e a fé, a desdita e a expectativa. O menino e o rapaz
passaram diante do grupo correndo em direção ao rio.
- Para onde ocês tão indo?
- Deixa eles, mãe. Quem dera eu ir
também. - Atalhou Diva: os cabelos duros de poeira, a cara encardida, a inhaca
forte, o corpo pedindo banho.
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