Tudo tem jeito afora a morte. |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio
Nº 167
Família
numerosa, ordeira e trabalhadora, habituada ao cultivo da mandioca, do feijão,
do milho, à criação de galinhas e de cabras. Exactamente de famílias assim
Tocaia Grande estava necessitando para assentar raízes e progredir.
Estabelecida
a primeira, outras acorreriam.
- É mesmo que tão querendo ficar todo mundo
junto?
- Trazemos
essa intenção mas diz que não é fácil. - O velho retomou a palavra e o comando.
-
Como é o nome de vosmicê?
-
Ambrósio, um criado às ordens.
-
E vosmicê, minha tia, como se chama?
-
Evangelina, mas me tratam de Vanjé. Será que não tem um jeito...
-
Tudo tem jeito, afora a morte.
Começou por declarar o nome e o título - por esses extremos do mundo todos me conhecem.
Passou então a falar sobre Tocaia Grande, lugarejo a menos de uma
légua de caminho, crescendo num sítio bonito por demais.
Contou das terras nas margens do rio nas quais
poderiam plantar compridos alqueires de feijão, de milho, de mandioca, terras
sem dono, de quem chegar primeiro. Nas roças de cacau seria cada um para seu
lado, sem apelação.
- Terras sem dono? Deveras?
- Boas de enxada?
- E se depois...
Por duas vezes a velha tinha visto
acontecer, testemunha e personagem.
— Aqui
é o princípio do mundo, sia Vanjé. Não é como em
Sergipe onde tudo já tem dono e senhor.
Até os milagres dos santos.
Vanjé compreendeu que o homem de Propriá
era um emissário do destino, sentiu-se libertada dos temores e da incerteza.
O
velho Ambrósio, porém, considerou:
- O dinheiro que nós tem não basta nem
pra começar.
- Nem carece. Chegando lá, procure um
turco chamado
Fadul, diga que vai de minha parte. Ele
vai facilitar tudo que vancês precisar.
Explicou por fim o porquê de tanta
regalia:
- Não sei de lugar mais bonito de se ver
do que Tocaia Grande, mas só vai prosperar no dia que tiver família morando, menino
pequeno e bicho de criação.
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