quinta-feira, fevereiro 05, 2015

Em baixo, as pedras das ruínas do que foi a Grécia antiga.
As Sementes 

da Democracia













A civilização grega terá sido o mais importante contributo para o progresso da civilização humana.

Foi na Grécia do período clássico – no famoso Século de Péricles – que o homem se libertou de crenças, preconceitos sociais e religiosos e, pela primeira vez de forma sistemática, se interrogou sobre o mundo que o rodeava.

Foi ali, durante esse período, quando deixaram de existir os condicionalismos psicológicos, educacionais e religiosos que anteriormente aprisionavam a mente humana, que nasceu o conceito de liberdade tal como hoje o entendemos na medida em que questionava até o proprio conhecimento – só sei que nada sei! 

A Filosofia nascida na Grécia, é a expressão máxima da liberdade do pensamento humano.

A forma de governo adoptada em Atenas, após a destruição da cidade provocada pelas Guerras Pérsicas, representa um avanço civilizacional extraordinário como jamais outro tinha acontecido.

Seria necessário esperar pela Revolução Francesa e pela Independência Americana, mais de 20 séculos depois, para se recuperar o princípio que o poder dos governantes reside no povo e só dele emana.

Como se alcançou momento tão excepcional é algo que ainda hoje podemos sentir viajando pela Grécia.

Favorecida pela geografia que lhe abria a porta para novas culturas e rotas comerciais, pela acidentada orografia que a protegia das invasões e ataques inimigos, pela amenidade do clima que convidava à discussão nas “ágoras” e “areópagos”, as cidades gregas reuniam as condições para a ocorrência de uma mutação civilizacional singular: o nascimento da democracia.

A língua e a escrita grega tiveram uma grande importância na difusão das ideias, na consolidação do seu pensamento e na estruturação das suas crenças.

Nos primórdios, em Creta e em Micenas a escrita grega era pictográfica, e foi nela que se gravaram as famosas tábuas de argila descobertas no palácio de Cnossos pelo arqueólogo Arthur Evans, e que o genial Michael Ventris, ao decifrá-las demonstrou terem por base a fonética e a língua gregas.

É nesse período – chamado período arcaico – que têm raízes as grandes lendas e mitos que lhes estão associados: as lutas de titãs e a criação do mundo, a guerra de Tróia, a “Odisseia”, o Minotauro, Dédalo e Ícaro, os argonautas, etc...

A “Ilíada” de Homero – e em certa medida a “Odisseia” – grafada já na nova escrita baseada no alfabeto fenício, representa para os gregos a mesma referência de crenças e valores que a Bíblia simboliza para os judeus.

Mas, ao contrário do pensamento judaico, que é teocêntrico - que considera Deus como o centro de tudo – nos gregos tudo é humano, e tudo se realiza à escala humana.

Isso é bem visível na escultura, onde se exalta o corpo humano dos jovens rapazes nus ou das jovens raparigas discreta e pudicamente vestidas com as suas longas túnicas.

Nunca os judeus representaram assim os seus heróis.

Na Renascença italiana seria Miguel Ângelo quem haveria de esculpir no mármore, à maneira dos gregos, o jovem David.

Com as suas contradições, as suas guerras, as suas ambições, a sua diversidade, o mundo grego representa um modelo que pode servir para simbolizar o mundo actual.

Estudar aquela cultura e os seus caminhos é estimulante e pode ajudar-nos a compreender o mundo de hoje e antever o seu destino.

As dimensões são diferentes, a Ática e o Peloponeso deram lugar aos novos continentes – a América e a Ásia à cabeça – e os mares Egeus e Jónico são agora todos os oceanos da terra.

Mas ao contrário do mundo dos gregos que eles imaginavam infinito, o nosso tem as fronteiras à vista e em cada dia que passa, tomamos disso dolorosa consciência.



NOTA - A Grécia vive neste momento uma fase crucial para o seu futuro com a vitória do Sirysa e as actuais negociações com as autoridades europeias.

O seu dia de amanhã vai continuar a ser de austeridade porque não há milagres. Resta aos gregos escolherem se vão viver essa austeridade com mais dignidade e menos humilhação... mesmo que num regresso ao velho dracma e a um começar de novo.

Há sempre um plano B mesmo quando não se diz que há... e não esqueçamos que não foi o povo grego que contraiu a dívida, foi uma oligarquia, um grupo restrito de pessoas que depois de a ter contraído a geriu fazendo recair o seu pagamento sobre o Estado social que está a desaparecer na Grécia progressivamente com as pessoas a ficarem abandonadas, entregues a si próprias de forma completamente desumana.


Destruir o Estado Social de um país europeu é destruir esse mesmo país mas este é o caminho que está a ser seguido...


Os gregos não decidiram comprar 4 submarinos aos alemães, mas são eles que os irão pagar. Os credores responsabilizam os países e não os oligarcas que, inclusivamente, enriquecem com essas dívidas. Foi assim na Grécia, foi assim em Portugal. 

Todos ouvimos o Ricardo Salgado a dar 1 milhão a cada um dos 5 ramos da família e a pedir-lhes desculpa por ter deixado fugir para outras mãos mais 20 e tal milhões, queixando-se que estava rodeado de aldrabões...

Site Meter