quarta-feira, fevereiro 04, 2015

Yanis Varoufakis
Yanis Varoufakis
Ministro grego das Finanças








Não resisto a transcrever uma pequena história, pequena em tamanho, grande em conteúdo, que foi passada aos jornais pelo novo ministro das Finanças Yanis Varoufakis durante uma entrevista que lhe foi feita por um jornalista espanhol acompanhado por um ajudante grego, como é c0stume acontecer.
É uma história dramática, mais uma das milhares que se vivem hoje na Grécia afectando pessoas da classe média, aquelas que pelo seu estatuto social, mais próximas estão de mim ou do amigo que visita o Memórias Futuras.
Este mundo interesseiro e materialista em que vivemos, que acentua desigualdades de forma escandalosa, considera que a Grécia vive uma crise económica, financeira, política, social mas, sendo isto verdade, o que mais impressiona naquele país é a crise humanitária.
Sempre conheci pobres e mendigos. Eles estão presentes nas minhas memórias de criança sentados nos degraus das igrejas, de mão estendida, aguardando a esmola que haverá de conduzir aos céus os crentes que saíam das missas e regressavam a suas casas reconfortadas por aquele gesto de caridade cristã.
Eles já cá estavam quando cheguei ao mundo, como tantas outras coisas, umas bonitas outras feias, que não deu para estranhar nem para sofrer, apenas para lamentar, “coitadinho do pobrezinho...”
Mas o que acontece agora no seio da sociedade grega não tem nada a ver com os pobres do meu tempo de criança.
No fim da entrevista que Yanis Varoufakis concedeu ao jornalista espanhol o ajudante grego pediu autorização para falar à parte com o ministro, na sua língua, e chegando-se ao pé dele segurou-o com ambas as mãos, olhos marejados de lágrimas e disse-lhe:
- “Sabe, eu ensinava línguas estrangeiras neste país, agora sou sem-abrigo há dois anos e alguns jornalistas estrangeiros usam-me, mas passo o dia e a noite a percorrer as ruas de Atenas e a tentar fingir que não sou sem-abrigo preparando-me para as visitas quinzenais à minha filha em que o meu objectivo é mostrar-lhe que não sou um sem-abrigo.
Não há nada que possa fazer por mim. Estou acabado. Mas garanta-me que outros que estão no mesmo precipício e ainda não caíram, não o façam”
Para estes mendigos eu não estava preparado, estes são novos, não vieram de trás como os do meu tempo de criança.
 Varoufakis conclui a entrevista dizendo:
 - Não estamos interessados em impor as nossas opiniões no resto da Europa. Somos demasiado pequenos e estamos demasiado falidos para isso.
Mas o que podemos fazer é pôr um fim a este discurso tabu orwelliano que tem caracterizado a Europa nos últimos cinco anos, porque, sabe, se falar com as entidades europeias quer elas estejam na Comunidade em Bruxelas, em Frankfurt, no BCE ou em governos, se falar com eles sem microfones ligados, atrás de portas fechadas, há ideias válidas sobre o que deveríamos fazer, como europeus.
E depois tem as reuniões, os Conselhos de Ministros, o Conselho Europeu, etc., e, de repente, é como se estivessem a imitar a União Soviética, há uma linha do partido, toda a gente fala, mas ninguém acredita naquilo.
Este duplo discurso tem de acabar e o que viemos fazer foi desmontá-lo.
Temos a esperança de abrir uma pequena porta para a luz. E outros seguir-nos-ão.
Esta entrevista foi gravada e emitida a 29 de Janeiro último na Austrália a outra nacionalidade de Yanis para além da grega.

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