Yanis Varoufakis |
Yanis Varoufakis
Ministro grego das Finanças
Ministro grego das Finanças
Não resisto a transcrever uma pequena história, pequena em tamanho, grande em conteúdo, que foi passada aos jornais pelo novo ministro das Finanças Yanis Varoufakis durante uma entrevista que lhe foi feita por um jornalista espanhol acompanhado por um ajudante grego, como é c0stume acontecer.
É uma história dramática, mais uma das milhares que
se vivem hoje na Grécia afectando pessoas da classe média, aquelas que pelo seu
estatuto social, mais próximas estão de mim ou do amigo que visita o Memórias
Futuras.
Este mundo interesseiro e materialista em que vivemos, que
acentua desigualdades de forma escandalosa, considera que a Grécia vive uma
crise económica, financeira, política, social mas, sendo isto verdade, o que
mais impressiona naquele país é a crise humanitária.
Sempre conheci pobres e mendigos. Eles estão presentes nas
minhas memórias de criança sentados nos degraus das igrejas, de mão estendida,
aguardando a esmola que haverá de conduzir aos céus os crentes que saíam das
missas e regressavam a suas casas reconfortadas por aquele gesto de caridade cristã.
Eles já cá estavam quando cheguei ao mundo, como tantas
outras coisas, umas bonitas outras feias, que não deu para estranhar nem para
sofrer, apenas para lamentar, “coitadinho do pobrezinho...”
Mas o que acontece agora no seio da sociedade grega não tem
nada a ver com os pobres do meu tempo de criança.
No fim da entrevista que Yanis Varoufakis concedeu ao
jornalista espanhol o ajudante grego pediu autorização para falar à parte com o
ministro, na sua língua, e chegando-se ao pé dele segurou-o com ambas as mãos,
olhos marejados de lágrimas e disse-lhe:
- “Sabe, eu ensinava línguas
estrangeiras neste país, agora sou sem-abrigo há dois anos e alguns jornalistas
estrangeiros usam-me, mas passo o dia e a noite a percorrer as ruas de Atenas e
a tentar fingir que não sou sem-abrigo preparando-me para as visitas qui nzenais à minha filha em que o meu objectivo é
mostrar-lhe que não sou um sem-abrigo.
Não há nada que possa fazer por mim. Estou acabado. Mas garanta-me
que outros que estão no mesmo precipício e ainda não caíram, não o façam”
Para estes mendigos eu não estava preparado, estes são novos,
não vieram de trás como os do meu tempo de criança.
Varoufakis conclui a
entrevista dizendo:
- Não estamos
interessados em impor as nossas opiniões no resto da Europa. Somos demasiado
pequenos e estamos demasiado falidos para isso.
Mas o que podemos fazer é pôr um fim a este discurso tabu
orwelliano que tem caracterizado a Europa nos últimos cinco anos, porque, sabe,
se falar com as entidades europeias quer elas estejam na Comunidade em
Bruxelas, em Frankfurt, no BCE ou em governos, se falar com eles sem microfones
ligados, atrás de portas fechadas, há ideias válidas sobre o que deveríamos
fazer, como europeus.
E depois tem as reuniões, os Conselhos de Ministros, o
Conselho Europeu, etc., e, de repente, é como se estivessem a imitar a União
Soviética, há uma linha do partido, toda a gente fala, mas ninguém acredita naqui lo.
Este duplo discurso tem de acabar e o que viemos fazer foi
desmontá-lo.
Temos a esperança de abrir uma pequena porta para a luz. E
outros seguir-nos-ão.
Esta entrevista foi gravada e emitida a 29 de Janeiro último
na Austrália a outra nacionalidade de Yanis para além da grega.
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