domingo, março 15, 2015

Largo do Seminário

(Na minha cidade de Santarém 
em 1573/15)











O mar, grande e profundo mete-me medo, no entanto, muitos milhões de anos atrás foi de lá que antepassados nossos saíram e ensaiaram os primeiros passos em terra.

É verdade, que também muitos milhões de anos depois, muitos desses antepassados regressaram a ele e hoje passeiam-se, imperiais, de norte para sul, de leste para oeste, majestosos, nos seus enormes corpos, os maiores que alguma vez houve e, se nada de especial acontecer, irão continuar a crescer de tamanho.

São decisões da natureza que não estavam previstas, como nada estava previsto, apenas esta força misteriosa que impulsiona a vida seja onde for e como for.

A humanidade surpreendeu o espectador curioso do evoluir da vida no nosso planeta. Um salto formidável na luta pela sobrevivência que já não passava por ser grande ou pequeno, maior ou menor, correr mais ou menos, ter ou não garras mais compridas e poderosas... nada disso, aquele primata frágil e indefeso que foi obrigado a apear-se das árvores e fazer esforças grotescos para equilibrar-se e locomover-se na posição vertical, fora da protecção dos troncos, dos ramos e dos galhos, dotou-se de uma arma, autêntica bomba atómica do reino animal: um cérebro pensante.

Hoje, sentamo-nos à beira mar, olhamos o oceano em repouso e sentimos uma sensação retemperadora, reconfortante, calma, mas ao mesmo tempo respeitosa, como nenhuma montanha, vale ou planície nos consegue transmitir e que faz dos povos da beira mar mais acolhedores, pacíficos, talvez mais amantes da vida, transigentes, compreensivos... o mar tempera-os.

Dois mundos, o da terra e o do mar, fundidos num só e um ser dominante e dominador que ambos ameaça. O cérebro pensante, a tal bomba atómica do reino animal, ou nos há-de, um dia projectar para o Universo de que fazemos parte ou fará da nossa sobrevivência no planeta Terra uma autentica lotaria de desfecho imprevisível.

Os radicais extremistas das três religiões monoteístas que infernizaram com guerras permanentes o nosso passado histórico, continuam presentes liderados agora por esse grupo de natureza islâmica que quer governar o mundo como um imenso califado e que espalha o espectáculo de terror como nunca jamais tinha acontecido.

Não que as atrocidades sejam novas, ainda no meu tempo de vivo milhões de pessoas foram mortas e queimadas pelos nazis em fornos crematórios num processo de eliminação a uma escala nunca vista mas o povo que o promoveu, o alemão, desconhecia-o, acordaram para ele mais tarde como todos os restantes europeus.

Agora, os radicais islâmicos mostram ao mundo, através das novas tecnologias, os actos horrorosos e selváticos de que são actores numa provocação hedionda só possível em mentes pervertidas.

Mas para eles isso não chega, não basta matar com requintes de malvadez e crueldade os que estão vivos, é preciso matar também os que estão mortos, destruir as recordações do passado, o património da humanidade e, quanto ao futuro, metê-lo num quarto escuro onde não se veja o céu nem as estrelas...

O que estão a dar ao mundo obriga a confrontar-mo-nos com a verdadeira realidade daquilo que somos... uma terrível realidade.

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