Largo do Seminário - Santarem |
HOJE É
DOMINGO
(Na minha cidade de Santarém em 1/3/15)
Pensar é Melhor Que
Rezar
Manifesto Ateísta de
Sam Harris
Por que razão a
Religião há-de ser fonte de violência?
As nossas religiões
são intrinsecamente incompatíveis uma com a outra.
Ou Jesus subiu dos mortos e está a chegar à terra como um super herói ou não;
ou o Alcorão é a palavra de Deus ou não é.
Todas as religiões fazem reivindicações explícitas sobre o mundo e a profusão
destas reivindicações incompatíveis cria uma base duradoura para o conflito.
Não há nenhum outro campo no qual os seres humanos estejam tão completamente
cientes das suas diferenças ou lance essas diferenças em termos de recompensas
ou castigos perpétuas.
Se uma pessoa acredita realmente que chamando Deus pelo nome certo pode fazer a
diferença entre a felicidade e o sofrimento eterno, então é razoável tratar os
hereges e os incrédulos bastante mal, será até mesmo razoável se os matar.
Se uma pessoa pensa que há algo que outra pessoa possa dizer a uma criança que
ponha em perigo a sua alma para toda a eternidade, então o herege que mora na
porta ao lado é mais perigoso do que um molestador de crianças. As “estacas”
das nossas diferenças religiosas são mais altas e profundas do que aquelas que
resultam do mero tribalismo, racismo ou políticas.
Fé “religiosa” é uma conversão-tampão. A religião é uma área do nosso discurso
no qual as pessoas não são obrigadas a apresentarem evidências sobre convicções
das quais estão tão seguras.
De tal forma seguras que são elas que vão determinar, frequentes vezes, a razão
porque vivem, morrem e até matam.
Este é um problema porque quando as “estacas” são demasiado altas o ser humano
apenas tem uma escolha simples entre a conversão e a violência.
Por isso, a nossa vontade fundamental, para ser razoável, tem que assentar em
convicções sobre o mundo baseadas em evidências e argumentos novos. Só assim
será garantido que o diálogo entre os homens é possível.
Certezas sem evidências são factores de divisão. Nada garante que pessoas
racionais estejam de acordo mas é certa a divisão irracional entre pessoas
aprisionadas dentro dos seus dogmas.
É muito pouco provável que consigamos ultrapassar as nossas divisões
multiplicando as oportunidades de diálogo entre as religiões.
O desfecho para a nossa civilização não pode ser a tolerância mútua entre irracionalidades
patentes.
Enquanto o discurso dos religiosos liberais, não fundamentalistas, concordar em
seguir pontos onde as suas visões do mundo colidem, esses mesmos pontos
permanecerão fontes perpétuas de conflito para os seus correligionários.
A justiça política, só por si, não oferece uma base duradoura para a cooperação
humana.
Tendo dispensado o dogma da fé a guerra religiosa passou, simplesmente, a ser
inconcebível do mesmo modo que, para outros, o canibalismo e a escravidão
parecem equi librados.
Quando temos razões para aqui lo que
acreditamos não precisamos para nada da fé e quando não temos nenhuma razão
perdemos a conexão com o mundo e entre uma pessoa e outra.
O ateísmo não é mais nada do que um compromisso para o padrão mais básico da honestidade
intelectual.
As convicções das pessoas deveriam ser proporcionais às suas evidências. Fingir
estar certo sobre proposições relativamente às quais nenhuma evidência é até
mesmo concebível, constitui uma falha intelectual e moral e só ateu percebeu
isto.
O ateu é simplesmente uma pessoa que percebeu as mentiras da religião e recusou
fazer parte dessa mentira.
Nota
Estou ligeiramente em desacordo. Não
gosto de me
afirmar como ateu, prefiro dizer, simplesmente, que não sou crente.
O
fenómeno da crença tem que ser entendido para se poder falar em religião, na
qual, para mim, não há verdades nem mentiras, apenas uma necessidade de
acreditar no irracional, no imaginário, como um imperativo inconsciente que os
crentes não discutem porque para eles não tem discussão.
É uma
fragilidade da espécie humana que se manifesta nas pessoas, não em todas e cada
vez em menos, sob a forma de crença.
É uma
fragilidade poderosa o que parece uma contradição mas não é. Os crentes aceitam
um imaginário que os reconforta porque sobre ele não têm que pensar, o que lhes
dá força e coragem e os torna iguais a todos os demais.
Percebo que um crente é diferente de mim e eu respeito as diferenças porque creio que eu o compreendo melhor a ele do que ele a mim, o que me dá maiores responsabilidades.
Enquanto
que todo o meu comportamento é resultado de um pensamento racional assente nos valores morais da minha cultura, grande diferença da minha espécie animal de todas as outras, o crente age também
por impulsos relativamente aos quais se limita a obedecer sem possibilidades de
aprovar ou desaprovar.
É o espaço
da fé, melhor dizendo, do acreditar por acreditar, que foi criado no nosso
cérebro e que terá sido muito importante, decisivo mesmo, para podermos ter
sobrevivido como espécie frágil que éramos, condenados ao insucesso.
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