Vai botar a bênção no teu filho, Natário. |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 201
Fazia-se preciso conhecê-lo pelo direito
e pelo avesso, por dentro e por fora, para perceber sinal de alvoroço, mostra
de contentamento na cara e no coração do mameluco.
Mas também o coronel Boaventura Andrade por
vezes se dava ao desplante de ler no pensamento alheio.
- Vai botar a bênção no teu filho,
Natário. - Colocou a mão no ombro do compadre: - Mas antes vamos beber à saúde dele.
- Tenho uma garrafa de arak, um anis
muito bom, veio de
Itabuna, feito pelas irmãs Farhat. Vou
buscar lá dentro. -Ofereceu Fadul.
- Deixa pra depois, Turco Fadul. Licor
de anis, coisa de gringo, não convém não. Pra brindar pelo menino sirva um
trago de cachaça. E não esqueça que a moça também aceita.
Sons alvissareiros e festivos ressoaram
no Caminho dos Burros: uma tropa arribava. No cabeçote e no peitoral da mula
madrinha pendiam enfeites, chocalhavam guizos.
ENCONTROS
E DESENCONTROS DE AMOR COM CASA
DE FARINHA E PONTILHÃO
1
É fácil identificar um turco pela
simples aparência, seja ele sírio, árabe, libanês. É tudo a mesma
raça, todos são todos
reconhecíveis pelo nariz adunco e pelo
cabelo crespo, além do
acento engrolado. Comem carne crua
esmagada em pilão de pedra.
Assim conjecturara Diva caminhando com
os parentes para alcançar a construção de pedra e cal na tarde em que os
primeiros sergipanos chegaram a Tocaia Grande, tomados de medo e de incerteza.
Em lugar de um turco, depararam com um
negro retinto a martelar o ferro, a torso nu, uma pele de caititu, sebenta,
passada na cintura, resguardando-lhe as partes. A surpresa fizera Diva desatar
num riso estabanado de menina, logo correspondido pelo ferreiro que se
destabocou em risada sonora e acolhedora.
Escancarado em riso, deu as boas-vindas
e se apresentou aos forasteiros:
- Meu nome é Castor Abduim mas me chamam
de Tição. Vivo aqui ferrando burros.
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