quinta-feira, março 19, 2015

Vai botar a bênção no teu filho, Natário.
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)





Episódio Nº 201

















Fazia-se preciso conhecê-lo pelo direito e pelo avesso, por dentro e por fora, para perceber sinal de alvoroço, mostra de contentamento na cara e no coração do mameluco.

 Mas também o coronel Boaventura Andrade por vezes se dava ao desplante de ler no pensamento alheio.

- Vai botar a bênção no teu filho, Natário. - Colocou a mão no ombro do compadre: - Mas antes vamos beber à saúde dele.

- Tenho uma garrafa de arak, um anis muito bom, veio de
Itabuna, feito pelas irmãs Farhat. Vou buscar lá dentro. -Ofereceu Fadul.

- Deixa pra depois, Turco Fadul. Licor de anis, coisa de gringo, não convém não. Pra brindar pelo menino sirva um trago de cachaça. E não esqueça que a moça também aceita.

Sons alvissareiros e festivos ressoaram no Caminho dos Burros: uma tropa arribava. No cabeçote e no peitoral da mula madrinha pendiam enfeites, chocalhavam guizos.


ENCONTROS E DESENCONTROS DE AMOR COM CASA DE FARINHA E PONTILHÃO

1

É fácil identificar um turco pela simples aparência, seja ele sírio, árabe, libanês. É tudo a mesma raça, todos são todos
reconhecíveis pelo nariz adunco e pelo cabelo crespo, além do
acento engrolado. Comem carne crua esmagada em pilão de pedra.

Assim conjecturara Diva caminhando com os parentes para alcançar a construção de pedra e cal na tarde em que os primeiros sergipanos chegaram a Tocaia Grande, tomados de medo e de incerteza.

Em lugar de um turco, depararam com um negro retinto a martelar o ferro, a torso nu, uma pele de caititu, sebenta, passada na cintura, resguardando-lhe as partes. A surpresa fizera Diva desatar num riso estabanado de menina, logo correspondido pelo ferreiro que se destabocou em risada sonora e acolhedora.

Escancarado em riso, deu as boas-vindas e se apresentou aos forasteiros:

- Meu nome é Castor Abduim mas me chamam de Tição. Vivo aqui ferrando burros.

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