A Península Ibérica na Idade Média |
A Idade Média
(Depois dos Romanos…)
É um período da história da
Europa entre os séculos V e XV com a queda do Império Romano do Ocidente.
Os ocupantes bárbaros formam novos reinos, apoiando-se
na estrutura do Império do Império
Romano
No século VII, o
Norte de África e o Médio Oriente, que tinham sido parte
do Império Romano, tornam-se territórios islâmicos depois da sua conqui sta pelos sucessores
de Maomé que expandiram a
sua religião pela espada.
O cristianismo disseminou-se
pela Europa Ocidental e assistiu-se a um surto de edificação
de novos espaços monásticos. Durante os séculos VII e VIII, os Francos, governados pela dinastia carolíngia, estabeleceram um
império que dominou grande parte
da Europa ocidental até ao século
IX, quando se desmoronaria perante as investidas dos Vikings pelo norte, Magiares pelo
leste e Sarracenos pelo sul.
Depois do início do ano 1000, verifica-se na Europa um
crescimento demográfico muito acentuado e um renascimento do comércio, à medida
que inovações técnicas e agrícolas permitem uma maior produtividade de solos e
colheitas.
É durante este período que se iniciam e consolidam as duas
estruturas sociais que dominam a Europa até ao Renascimento:
- O Senhorialismo – A organização de camponeses em
aldeias que pagam renda e prestam vassalagem a um nobre.
- Feudalismo — Uma estrutura política em que cavaleiros e outros nobres de
estatuto inferior prestam serviço militar aos seus senhores, recebendo como
compensação uma propriedade senhorial e o direito a cobrar impostos em
determinado território.
As Cruzadas, anunciadas pela primeira vez em
1095, representam a tentativa da cristandade em recuperar dos muçulmanos o domínio sobre a Terra Santa tendo chegado a
estabelecer alguns estados cristãos no Médio Oriente.
Os últimos séculos da Idade Média ficaram marcados por várias
guerras, adversidades e catástrofes. A população foi dizimada por sucessivas fomes e pestes. Só a peste negra foi responsável pela morte de um terço
da população europeia entre 1347 e 1350.
Na Península Ibérica foi um período confuso o da Idade Média. Se
do lado muçulmano o poder político estava pulverizado por inúmeros estados
minúsculos, da banda dos cristãos o panorama era idêntico, apenas com a
diferença de que os condados dependiam nominalmente dos reis que, em teoria,
estavam acima deles e os englobavam. Mas só em teoria, porque a sua
independência era quase total.
Dentro destas unidades políticas quem mandava verdadeiramente
eram os senhores locais – senhorialismo - ou os municípios, inspirados
estes nos antigos Municípios do Império Romano, que eram administrados por
plebeus, os tais vilões ou burgueses que se especializaram na produção de
artesanato ou na actividade comercial, e deram origem à classe dos artesãos e
mercadores que passaram a comercializar esses produtos, ou eventuais excedentes
agrícolas e que tinham sido autorizados a fazê-lo por meio de uns documentos
assinados pelo Rei chamados “cartas de foral” ou, simplesmente, “forais”.
Nós agora queixamo-nos, e com toda a razão, da Brisa que nos
cobra as portagens nas auto-estradas e engordam à custa de dinheiros públicos e
da exploração das estradas mais transitáveis mas, no que toca a portagens, na
Idade Média não era muito diferente, senão pior:
- Para se viajar através do país era preciso ter a bolsa
bem recheada. E então no que toca a mercadorias, era de arrepiar pois cada
concelho, apoiado na sua “carta de foral”, tinha o direito de cobrar taxas de
passagem.
Mas, se quanto aos concelhos ainda vá que não vá, pois eram uma
espécie de mini-governos regionais, o pior é que não eram apenas estes que
cobravam portagens, alcavalas, dízimos e outros impostos de passagem: os nobres
também o faziam quando as suas terras eram atravessadas.
E o problema de mudar de terra não se ficava por aqui . É que cada região, cada cidade e às vezes cada
aldeia, adoptava os seus pesos e medidas próprios.
Aqui lo que hoje
denominamos por Estado – que seria a Coroa, nessa altura – tinha uma reduzida
interferência do dia-a-dia da vida das pessoas e não regulamentava coisas de
“pequena importância” como estas em que os viajantes estavam sujeitos a toda a
espécie de extorsões.
Para além de tudo isto, viajar era muito difícil porque… não
havia estradas praticamente a não ser aquelas que ainda sobravam das antigas
“vias romanas”.
Os rios eram, por isso, a alternativa, largamente utilizados
como vias de comunicação e no nosso país os rios Tejo e Douro eram navegáveis
por barcos relativamente grandes ao longo de todo o seu curso.
Recordo ainda o que restava das ruínas do que seriam armazéns
nas areias do rio Tejo, junto à aldeia dos meus avós, onde em miúdo ia tomar
banho. Era o antigo porto da Concavada, concelho de Abrantes, comprovando a
importância do rio no transporte de pessoas e mercadorias para Lisboa para
contornar as dificuldades e perigos das viagens por terra.
Parece que o célebre Zé do Telhado operava ali para os
lados do Pinhal da Azambuja.
Acabou preso e deportado para Angola onde morreu. Visitei a sua
campa aquando da visita de estudo que fiz àquele território em 1960.
No século XIII, quando Portugal atingiu as suas fronteiras
definitivas, Leiria, Mértola, Odemira e Silves possuíam portos de mar.
Viajar por mar ou rio era sempre preferível do que fazê-lo por
terra. Por exemplo, para ir de Lisboa a Barcelona ou a Valência, ninguém
pensava em atravessar a península – era preferível contorná-la.
Na segunda metade do século XV, na sua viagem à corte de Luís XI
de França, o nosso rei D. Afonso V, navegou pelo estreito de Gibraltar e mar
Mediterrâneo até um porto vizinho de Marselha e daí seguiu numa longa viagem
por terra até Blois e Paris.
Mas, de uma forma geral, pura e simplesmente, não se viajava.
Apenas os nobres e os guerreiros que os acompanhavam se deslocavam por razões
militares ou diplomáticas.
A gente do povo nascia e morria no mesmo sítio ou num raio de
poucos qui lómetros
em redor, para irem à feira.
No nosso Portugal, do tempo de Salazar, por todo o interior do
país era ainda precisamente assim.
Foi a guerra do Ultramar e a “fuga” para o Brasil e depois a
França - para sobreviverem à fome nas suas aldeias - tudo já em
tempos recentes, que puseram as pessoas, finalmente, a viajar. Antes, muito
antes, alguns tinham estado envolvidos nas viagens marítimas a darem “novos
mundos ao mundo”.
Mas a mim, o que mais me incomoda nesta Idade Média eram os
costumes bárbaros, a morte corriqueira pelos motivos mais fúteis, o desprezo
pela vida e a impunidade para os cruéis:
- Um tal Fernando Mendes, alcunhado do Bravo, que era
filho do alferes-mor de D. Afonso Henriques que mandou cozer a própria mãe
dentro de uma pele de urso e deu-a a comer aos cães porque a senhora se sentia
incomodada por uma certa mulher por quem o filho se tinha tomado de amores:
- Ou de um outro, um tal D. Gonçalo Henriques, antepassado
de D. Nuno Álvares Pereira, que informado de que a mulher, que ficara no
castelo de Lanhoso enquanto ele combatia nas expedições contra os mouros, o
atraiçoava com um frade, possivelmente seu confessor, regressou ao castelo,
fechou-lhe as portas, pegou-lhe fogo, matando a mulher, o frade e todos os que
lá estavam dentro, criados, cães, gatos e aves de capoeira.
Ele justificou-se,
mais tarde, dizendo que eram todos cúmplices da mulher uma vez que não o
avisaram…
Terá sido, pois, um período muito pouco recomendável para se
viver…
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