sexta-feira, abril 17, 2015

A Península Ibérica na Idade Média
A Idade Média

(Depois dos Romanos…)













É um período da história da Europa entre os séculos V e XV com a queda do Império Romano do Ocidente. Os ocupantes bárbaros  formam novos reinos, apoiando-se na estrutura do Império do Império Romano

No século VII, o Norte de África  e o Médio Oriente, que tinham sido parte do Império Romano, tornam-se territórios islâmicos depois da sua conquista pelos sucessores de  Maomé que expandiram a sua religião pela espada.

O cristianismo disseminou-se pela Europa Ocidental e assistiu-se a um surto de edificação de novos espaços monásticos. Durante os séculos VII e VIII, os Francos, governados pela dinastia carolíngia, estabeleceram um império que dominou grande parte da Europa ocidental até ao século IX, quando se desmoronaria perante as investidas dos Vikings pelo norte, Magiares pelo leste e Sarracenos pelo sul.

Depois do início do ano 1000, verifica-se na Europa um crescimento demográfico muito acentuado e um renascimento do comércio, à medida que inovações técnicas e agrícolas permitem uma maior produtividade de solos e colheitas.

 É durante este período que se iniciam e consolidam as duas estruturas sociais que dominam a Europa até ao Renascimento:

- O Senhorialismo – A organização de camponeses em aldeias que pagam renda e prestam vassalagem a um nobre.

- Feudalismo — Uma estrutura política em que cavaleiros e outros nobres de estatuto inferior prestam serviço militar aos seus senhores, recebendo como compensação uma propriedade senhorial e o direito a cobrar impostos em determinado território.

 As Cruzadas, anunciadas pela primeira vez em 1095, representam a tentativa da cristandade em recuperar dos muçulmanos o domínio sobre a Terra Santa tendo chegado a estabelecer alguns estados cristãos no Médio Oriente.

Os últimos séculos da Idade Média ficaram marcados por várias guerras, adversidades e catástrofes. A população foi dizimada por sucessivas fomes e pestes. Só a peste negra foi responsável pela morte de um terço da população europeia entre 1347 e 1350.

Na Península Ibérica foi um período confuso o da Idade Média. Se do lado muçulmano o poder político estava pulverizado por inúmeros estados minúsculos, da banda dos cristãos o panorama era idêntico, apenas com a diferença de que os condados dependiam nominalmente dos reis que, em teoria, estavam acima deles e os englobavam. Mas só em teoria, porque a sua independência era quase total.

Dentro destas unidades políticas quem mandava verdadeiramente eram os senhores locais – senhorialismo -  ou os municípios, inspirados estes nos antigos Municípios do Império Romano, que eram administrados por plebeus, os tais vilões ou burgueses que se especializaram na produção de artesanato ou na actividade comercial, e deram origem à classe dos artesãos e mercadores que passaram a comercializar esses produtos, ou eventuais excedentes agrícolas e que tinham sido autorizados a fazê-lo por meio de uns documentos assinados pelo Rei chamados “cartas de foral” ou, simplesmente, “forais”.

Nós agora queixamo-nos, e com toda a razão, da Brisa que nos cobra as portagens nas auto-estradas e engordam à custa de dinheiros públicos e da exploração das estradas mais transitáveis mas, no que toca a portagens, na Idade Média não era muito diferente, senão pior:

 - Para se viajar através do país era preciso ter a bolsa bem recheada. E então no que toca a mercadorias, era de arrepiar pois cada concelho, apoiado na sua “carta de foral”, tinha o direito de cobrar taxas de passagem.

Mas, se quanto aos concelhos ainda vá que não vá, pois eram uma espécie de mini-governos regionais, o pior é que não eram apenas estes que cobravam portagens, alcavalas, dízimos e outros impostos de passagem: os nobres também o faziam quando as suas terras eram atravessadas.

E o problema de mudar de terra não se ficava por aqui. É que cada região, cada cidade e às vezes cada aldeia, adoptava os seus pesos e medidas próprios.

Aquilo que hoje denominamos por Estado – que seria a Coroa, nessa altura – tinha uma reduzida interferência do dia-a-dia da vida das pessoas e não regulamentava coisas de “pequena importância” como estas em que os viajantes estavam sujeitos a toda a espécie de extorsões.

Para além de tudo isto, viajar era muito difícil porque… não havia estradas praticamente a não ser aquelas que ainda sobravam das antigas “vias romanas”.

Os rios eram, por isso, a alternativa, largamente utilizados como vias de comunicação e no nosso país os rios Tejo e Douro eram navegáveis por barcos relativamente grandes ao longo de todo o seu curso.

Recordo ainda o que restava das ruínas do que seriam armazéns nas areias do rio Tejo, junto à aldeia dos meus avós, onde em miúdo ia tomar banho. Era o antigo porto da Concavada, concelho de Abrantes, comprovando a importância do rio no transporte de pessoas e mercadorias para Lisboa para contornar as dificuldades e perigos das viagens por terra.

 Parece que o célebre Zé do Telhado operava ali para os lados do Pinhal da Azambuja.

Acabou preso e deportado para Angola onde morreu. Visitei a sua campa aquando da visita de estudo que fiz àquele território em 1960.

No século XIII, quando Portugal atingiu as suas fronteiras definitivas, Leiria, Mértola, Odemira e Silves possuíam portos de mar.

Viajar por mar ou rio era sempre preferível do que fazê-lo por terra. Por exemplo, para ir de Lisboa a Barcelona ou a Valência, ninguém pensava em atravessar a península – era preferível contorná-la.

Na segunda metade do século XV, na sua viagem à corte de Luís XI de França, o nosso rei D. Afonso V, navegou pelo estreito de Gibraltar e mar Mediterrâneo até um porto vizinho de Marselha e daí seguiu numa longa viagem por terra até Blois e Paris.

Mas, de uma forma geral, pura e simplesmente, não se viajava. Apenas os nobres e os guerreiros que os acompanhavam se deslocavam por razões militares ou diplomáticas.

A gente do povo nascia e morria no mesmo sítio ou num raio de poucos quilómetros em redor, para irem à feira.

No nosso Portugal, do tempo de Salazar, por todo o interior do país era ainda precisamente assim.

Foi a guerra do Ultramar e a “fuga” para o Brasil e depois a França -  para sobreviverem à fome nas suas aldeias -  tudo já em tempos recentes, que puseram as pessoas, finalmente, a viajar. Antes, muito antes, alguns tinham estado envolvidos nas viagens marítimas a darem “novos mundos ao mundo”.

Mas a mim, o que mais me incomoda nesta Idade Média eram os costumes bárbaros, a morte corriqueira pelos motivos mais fúteis, o desprezo pela vida e a impunidade para os cruéis:

 - Um tal Fernando Mendes, alcunhado do Bravo, que era filho do alferes-mor de D. Afonso Henriques que mandou cozer a própria mãe dentro de uma pele de urso e deu-a a comer aos cães porque a senhora se sentia incomodada por uma certa mulher por quem o filho se tinha tomado de amores:

 - Ou de um outro, um tal D. Gonçalo Henriques, antepassado de D. Nuno Álvares Pereira, que informado de que a mulher, que ficara no castelo de Lanhoso enquanto ele combatia nas expedições contra os mouros, o atraiçoava com um frade, possivelmente seu confessor, regressou ao castelo, fechou-lhe as portas, pegou-lhe fogo, matando a mulher, o frade e todos os que lá estavam dentro, criados, cães, gatos e aves de capoeira. 

Ele justificou-se, mais tarde, dizendo que eram todos cúmplices da mulher uma vez que não o avisaram…

Terá sido, pois, um período muito pouco recomendável para se viver…

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