quinta-feira, abril 16, 2015

Qual deles o afortunado?
TOCAIA GRANDE
 (Jorge Amado)

Episódio Nº 225


















Sendo ele próprio candidato, nas encolhas mas nem por isso menos atuante, preferia não abordar o assunto. Nesse arriscado assunto de mulher, deixava espalhafato e bolodório para os demais, os que se compraziam em contar vantagem.

No seu calado, sem arrotar serviços, ia traçando as putas mais conceituadas, hoje uma, amanhã outra. No caso de Ção, donzela e lesa, sobravam concorrentes, fogosos e exibidos. Na moita, Durvalino.

Não levava em conta Edu e Nando, ainda menos Peba, faltava-lhes competência. No cansaço das correrias, não iam além de apertos, apalpadelas, corpos encostados: quando queriam suspender-lhe a saia, Ção escapava.

O fato de agirem juntos tomava impossível maiores conseqüências e os moleques, no fundo da alma, preferiam as éguas e as mulas, as viciadas: habituais na maioria das tropas que pernoitavam em Tocaia Grande.

 Edu e Nando conheciam todas elas e se sobrevinha um comboio novo, logo descobriam as afeitas ao trato dos homens. Tinham faro, jamais se enganavam.

Os verdadeiros concorrentes eram outros, rapazes que estavam atingindo a idade adulta, já frequentavam raparigas e só recorriam às mulas em caso extremo.

Dois deles, sobretudo, preocupavam Durvalino e interessavam a Ção, que os incentivava tanto quanto ao caixeiro, o sergipano Aurélio, alta estatura, estabanado, últimamente entregue ao aprendizado do cavaquinho, Zinho, antigo no lugar, sempre limpo e arrumado, maneiroso, discreto, pouco dado a estripulias.

-  Qual deles, o afortunado?

Somente Deus que a fizera assim, doidinha, poderia dizer se Ção sentia realmente atracção por qualquer deles. Por certo não desdenhava de nenhum, nem mesmo dos meninos. Tolos, ignorantes, mal-servidos - só conseguiam vencê-la na corrida quando ela permitia - os meninos, apesar de tudo, ajudavam a passar o tempo e lhe acendiam o fogo.

Quanto aos três chibantes que a pastoreavam e buscavam derrubá-la nas sombras das matas ou nos esconsos do rio, Zinho, Aurélio e Durvalino, ela os mantinha na agonia, com água na boca e o pau na mão.

 Deixava-se tocar ora por um ora por outro, permitindo-lhes colocar-lhe a rola nas coxas ou no vão da bunda, descer a mão do peito para o pentelho crespo, mas quando tentavam abrir-lhe as pernas, sempre encontrava jeito de fugir.

Se fosse dado a alguém adivinhar seu pensamento, ficaria sabendo que atracção, desejo veemente e sôfrego, ela sentia não por um único varão, mas pela singular espécie dos pais-d’égua.

Nem meninos, nem frangotes: homens maduros, machos, garanhões.

Escondida atrás das árvores acontecia-lhe ver Fadul e Castor mijando, apreciar as estrovengas. Numa das vezes pôde compará-las: os dois estavam juntos e conversavam. A de seu Fadu - ai Jesus! - um espanto, parecia de jumento.

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