Qual deles o afortunado? |
TOCAIA
GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio
Nº 225
Sendo
ele próprio candidato, nas encolhas mas nem por isso menos atuante, preferia
não abordar o assunto. Nesse arriscado assunto de mulher, deixava espalhafato e
bolodório para os demais, os que se compraziam em contar vantagem.
No
seu calado, sem arrotar serviços, ia traçando as putas mais conceituadas, hoje
uma, amanhã outra. No caso de Ção, donzela e lesa, sobravam concorrentes,
fogosos e exibidos. Na moita, Durvalino.
Não
levava em conta Edu
e Nando, ainda menos Peba, faltava-lhes competência. No cansaço das correrias,
não iam além de apertos, apalpadelas, corpos encostados: quando queriam suspender-lhe
a saia, Ção escapava.
O
fato de agirem juntos tomava impossível maiores conseqüências e os moleques, no
fundo da alma, preferiam as éguas e as mulas, as viciadas: habituais na maioria
das tropas que pernoitavam em
Tocaia Grande.
Edu e Nando conheciam todas elas e se
sobrevinha um comboio novo, logo descobriam as afeitas ao trato dos homens.
Tinham faro, jamais se enganavam.
Os
verdadeiros concorrentes eram outros, rapazes que estavam atingindo a idade
adulta, já frequentavam raparigas e só recorriam às mulas em caso extremo.
Dois deles, sobretudo, preocupavam Durvalino e
interessavam a Ção, que os incentivava tanto quanto ao caixeiro, o sergipano
Aurélio, alta estatura, estabanado, últimamente entregue ao aprendizado do
cavaqui nho, Zinho, antigo no lugar, sempre limpo e
arrumado, maneiroso, discreto, pouco dado a estripulias.
- Qual deles, o
afortunado?
Somente Deus que a fizera assim,
doidinha, poderia dizer se Ção sentia realmente atracção por
qualquer deles. Por certo não desdenhava de nenhum, nem mesmo dos meninos.
Tolos, ignorantes, mal-servidos - só conseguiam vencê-la na corrida quando ela
permitia - os meninos, apesar de tudo, ajudavam a passar o tempo e lhe acendiam
o fogo.
Quanto aos três chibantes que a pastoreavam
e buscavam derrubá-la nas sombras das matas ou nos esconsos do rio, Zinho,
Aurélio e Durvalino, ela os mantinha na agonia, com água na boca e o pau na
mão.
Deixava-se tocar ora por um ora por outro,
permitindo-lhes colocar-lhe a rola nas coxas ou no vão da bunda, descer a mão
do peito para o pentelho crespo, mas quando tentavam abrir-lhe as pernas,
sempre encontrava jeito de fugir.
Se fosse dado a alguém adivinhar seu
pensamento, ficaria sabendo que atracção, desejo veemente e sôfrego, ela sentia
não por um único varão, mas pela singular espécie dos pais-d’égua.
Nem meninos, nem frangotes: homens
maduros, machos, garanhões.
Escondida atrás das árvores
acontecia-lhe ver Fadul e Castor mijando, apreciar as estrovengas. Numa
das vezes pôde compará-las: os dois estavam juntos e conversavam. A de seu Fadu
- ai Jesus! - um espanto, parecia de jumento.
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