quarta-feira, abril 15, 2015

Não deixe eles me pegar, seu Fadu
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)

Episódio Nº 224




















- Quem tá fazendo é seu Bastião. - Acrescentou Durvalino:

- Passa lá o dia inteiro, perto dela... De Diva... Pra mim, seu
Tição já caiu da sela, se estrombicou...

Pedro Cigano não tomou partido, estava entretido avaliando o crescimento do povoado:

- Sim senhor, quem houvera de dizer... - estendeu o copo vazio na esperança de nova dose, afinal fazia um ror de tempo que não conversava com o amigo Fadul.

- Começou a ter cacau... - disse o turco medindo a contragosto mais uma talagada no gratuítes e explicando o que um e outro estavam cansados de saber.

- Louva Deus! - Brindou o fura-mundo.

Uma alcatéia de moleques passou diante da porta, correndo, levantando poeira, à frente uma garota dando nomes: filhos da puta, punheteiros, xibungos.

 Apontando-a, o músico quis saber quem era.

- A filha de Altamirando, Ção. É esquecida da cabeça. Vive na gandaia com os meninos, não demora a pegar barriga. - Previu Fadul.

Pedro Cigano acompanhou o olhar de Durvalino no rasto dos vadios. Não só de comentar a vida alheia se ocupava o caixeiro, sorriu o rei do fole, divertido.

 A menina, de volta, para escapar à perseguição, varou armazém adentro, parou junto ao turco, esbaforida.

Nos rasgões do andrajo que vestia, exibia-se a pujança do corpo adolescente.

- Não deixe eles me pegar, seu Fadu. Tão querendo abusar de mim.

No lado de fora, arfantes, Nando, Edu e seu irmão Peba, de onze anos, filho do Capitão mas não de Zilda, mãe apenas de criação, aguardavam.

Certos de que ela retomaria a provocá-los após beber a água da cacimba que Lombriga-de-Turco lhe servia num copo ainda sujo de cachaça. Mas ao ver Pedro Cigano, Ção menosprezou as brincadeiras de picula e cabra-cega, olhou com desdém os moleques lá fora, à espera.

 No armazém encontrava-se entre homens, um ainda jovem mas os outros dois curtidos pela vida. Sentou-se no chão, à la godaça, mostrou a língua para os meninos, bateu a mão no braço no gesto insultuoso de lhes dar bananas e os esqueceu.

As pernas estiradas, o riso extravasando na boca semi-aberta, feliz da vida:

- Vai ter dança? A coisa que eu mais gosto é de dançar.

16

Taramela desatada, Durvalino comentava sem parar o embeleço que opunha Tição a Bastião da Rosa, discutia as perspectivas dos pretendentes, fazia previsões, não aceitava apostas por falta de numerário. Mas, calava-se surdo e mudo, se por acaso ouvia alguma referência acerca de quem comeria, sem dúvida muito em breve, os expostos três vinténs da maluqueta Ção.

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