Não deixe eles me pegar, seu Fadu |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 224
- Quem tá fazendo é seu Bastião. - Acrescentou Durvalino:
- Passa lá o dia inteiro, perto dela...
De Diva... Pra mim, seu
Tição já caiu da sela, se estrombicou...
Pedro Cigano não tomou partido, estava
entretido avaliando o crescimento do povoado:
- Sim senhor, quem houvera de dizer... -
estendeu o copo vazio na esperança de nova dose, afinal fazia um ror de tempo que
não conversava com o amigo Fadul.
- Começou a ter cacau... - disse o turco
medindo a contragosto mais uma talagada no gratuítes e explicando o que um e outro
estavam cansados de saber.
- Louva Deus! - Brindou o fura-mundo.
Uma alcatéia de moleques passou diante
da porta, correndo, levantando poeira, à frente uma garota dando nomes: filhos
da puta, punheteiros, xibungos.
Apontando-a, o músico qui s
saber quem era.
- A filha de Altamirando, Ção. É
esquecida da cabeça. Vive na gandaia com os meninos, não demora a pegar
barriga. - Previu Fadul.
Pedro Cigano acompanhou o olhar de
Durvalino no rasto dos vadios. Não só de comentar a vida alheia se ocupava o
caixeiro, sorriu o rei do fole, divertido.
A
menina, de volta, para escapar à perseguição, varou armazém adentro, parou
junto ao turco, esbaforida.
Nos rasgões do andrajo que vestia,
exibia-se a pujança do corpo adolescente.
- Não deixe eles me pegar, seu Fadu. Tão
querendo abusar de mim.
No lado de fora, arfantes, Nando, Edu e
seu irmão Peba, de onze anos, filho do Capitão mas não de Zilda, mãe apenas de criação,
aguardavam.
Certos de que ela retomaria a
provocá-los após beber a água da cacimba que Lombriga-de-Turco lhe servia num
copo ainda sujo de cachaça. Mas ao ver Pedro Cigano, Ção menosprezou
as brincadeiras de picula e cabra-cega, olhou com desdém os
moleques lá fora, à espera.
No armazém encontrava-se entre homens, um
ainda jovem mas os outros dois curtidos pela vida. Sentou-se no chão, à la godaça,
mostrou a língua para os meninos, bateu a mão no braço no gesto insultuoso de
lhes dar bananas e os esqueceu.
As
pernas estiradas, o riso extravasando na boca semi-aberta, feliz da vida:
-
Vai ter dança? A coisa que eu mais gosto é de dançar.
16
Taramela
desatada, Durvalino comentava sem parar o embeleço que opunha Tição a Bastião
da Rosa, discutia as perspectivas dos pretendentes, fazia previsões, não
aceitava apostas por falta de numerário. Mas, calava-se surdo e mudo, se por
acaso ouvia alguma referência acerca de quem comeria, sem dúvida muito em breve,
os expostos três vinténs da maluqueta Ção.
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