Não disse que um dia vinha, turco de uma figa. |
TOCAIA GRANDE
(Jorge Amado)
Episódio Nº 215
Em Lagarto, as velhas, as malucas, os
meninos, não sabiam o que fazer, precisavam dela para traçar rumo na orfandade:
reclamavam sua presença, não bastava o dinheirinho mandado todo fim de mês,
religiosamente.
Antes de embarcar, ela tinha vindo
despedir-se, aproveitando a tropa de Zé Raimundo para fazer a viagem repimpada
num burro de pisada macia. Chegou sem aviso, Fadul estava ocupado no armazém
quando ouviu gritos do tropeiro, anunciando:
- Seu Fadu! Seu Fadu! Venha correndo ver
o presente que tou trazendo pra vancê!
Lépida e risonha, Zezinha saltou-lhe ao
pescoço:
- Não disse que um dia eu vinha, turco
de uma figa?
Depois chorou lágrimas deveras sentidas
ao contar a morte
do pai, um homem bom que não tivera
sorte. Enquanto forte lavrara a terra de terceiros, terminara na cachaça quando
o impaludismo montara em seu cangote. A família trabalhava a dia em plantações
alheias, os homens cortavam cana nos campos do banguê.
Não fosse a ajuda de Zezinha, passariam
fome. Das filhas mulheres, Zezinha tinha sido a única a subir na vida, a
prosperar, graças a Deus que a protegera. Fora ser puta em Itabuna.
A hora não era própria para boas-vindas,
os comboios arribavam, os tropeiros e ajudantes invadiam o cacete armado para
comprar o que comer, as raparigas apareciam em busca de frete e de um gole de
cachaça. Zezinha, tendo levado para o quarto o baú de flandre, veio ajudar o
turco no balcão e, assim fazendo, aumentou o consumo de aguardente, todos
queriam brindar com ela e com o ladrão do turco, quem não sabia do rabicho
antigo e persistente?
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