sexta-feira, abril 03, 2015

Ressuscitado pelas mulheres que o amaram.
A Propósito da Páscoa





















A Igreja é uma estrutura hierarquizada de poder que se baseia na crença natural dos homens e se apoderou da ética e da moral como se fossem suas.

A morte de Jesus da Nazaré, messias e profeta na sua terra, estaria destinada ao esquecimento, como outras antes dele, senão fosse a sua anunciada ressuscitação a que chamaram de ressurreição, três dias depois de ter sido morto e enterrado, tendo então voltado à fala com alguns dos seus apóstolos. 

Não era inédito nesse tempo de desesperança, homens dotados de grande poder de persuasão apresentarem-se perante os outros como guias e, acima de tudo, como elementos de esperança no futuro e numa vida melhor.

Como era difícil acreditar que essa melhoria de vida resultasse na realidade pela força da palavra dado o poder invencível das tropas do exército romano que esmagava os povos -principalmente com os seus impostos -  as promessas tinham que atirar para um outro mundo no qual, finalmente, as pessoas poderiam ser felizes se seguissem as palavras orientadoras dos guias e profetas.

Jesus ressuscitou, melhor dizendo, foi ressuscitado pelas mulheres que o amavam e não aceitaram a sua morte o que, de resto, não era inédito naquela sociedade, dois mil anos atrás.

As mães recusavam-se a aceitar a morte dos seus filhos, jovens, na força da vida, que morriam lutando por causas nobres como a liberdade e a dignidade do seu povo submetido às injustiças dos invasores.

A mãe de Jesus não terá sido a primeira a ressuscitar o seu filho como forma de retemperar a dor e a injustiça que a sua morte representava para ela e para quantos o amavam.

“Ele está vivo, continua aqui, ao nosso lado, o nosso amor e a nossa dor gritam por ele. Ele ouviu-nos, não quer que soframos. Por isso regressou para nos dizer que devemos ter força e não chorar mais”.

- Não fossem pensamentos destes como teria sido possível lutar contra a dor provocada pela morte de um jovem, heróico e sedutor e resistir sem soçobrar quando a injustiça continuava presente nas pessoas dos soldados romanos invasores?

- Que alternativa havia, então, dois mil anos atrás, que não fosse acreditar que Jesus tinha ressuscitado?

- Como seria possível, de outra maneira, travar dentro daqueles corações a força do desejo que não fosse transformando-o em realidade?

Este comportamento humano perante a morte, sofrida, pungente, feita de sentimentos comuns a todas as mães, parentes e amigos, não só compreendo como acredito.

Há quem veja nele, obcecado pele ideia de Deus e da religião, a história de perdedores, humilhados, ofendidos, colonizados, das mulheres...

Quando se pretende criar um movimento religioso, alimentar uma religião, dar força a uma igreja, animar uma fé, então, muita coisa se pode ver na dor e no sofrimento de uma mãe que retira o corpo do seu filho morto numa cruz.

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