A mente
humana está vocacionada, não propriamente para amar a Deus, mas para acreditar
nele, respeitá-lo, temê-lo, venerá-lo, numa ligação que escapa à vontade, que não
depende de argumentos lógicos, racionais, das tais evidências em que os
cientistas se apoiam para construir a ciência.
Lembrei-me
disto, porque num programa que passei aqui
no Memórias Futuras em que o humorista americano Bill Maller, falava num auditório
de pessoas religiosas, um deles, no meio da conversa, ausenta-se abrupt amente "com vontade de chegar a vias de facto" acusando-o de estar a ofender “o seu Deus...”
Eu,
como já sabem, não acredito em Deus por moto próprio. Não me desliguei dele,
simplesmente nunca estive ligado, e se alguém fez alguma coisa foi no sentido
de eu ser crente, religioso e católico.
A minha
mãe, era muito pequenino, ensinou-me as orações, à noite, quando já estava
deitado, antes de adormecer, e uns anitos mais tarde, pelos meus 11 anos, fui
para um colégio de jesuítas e aí aprendi tudo nos 2 anos em que lá estive:
rezas, sacramentos, peregrinações a Fátima e retiros para leituras inspiradoras
sobre a vida de homens santos e nunca ninguém tentou convencer-me que essa
coisa de Deus era uma treta...
Apenas
que as ideias a este respeito, esta indiferença, esta ausência total de sentido
religioso foi avançando comigo na vida e cimentaram-se com as leituras do
pensamento de Bertrand Russell nos anos 70 e muito mais tarde esclarecido pelo
Prémio Nobel Richard Dawkins, um dos maiores intelectuais da nossa época, no
seu livro A Desilusão de Deus um campeão de vendas em todo o mundo.
Richard
Dawkins tem tido, para além de outros intelectuais, uma acção militante no
sentido de desacreditar e desmontar o pensamento religioso com uma argumentação
séria e muito bem fundamentada não só nos diálogos que trava em público como no
livro que já referi.
Eu não
segui, como já disse, nenhum percurso para chegar a não crente e como criança
fui obediente e disciplinada e gostava de agradar às pessoas e, dada a minha
herança e formação, tudo diria que eu iria ser católico, mais ou menos
praticante, mas seguramente crente em Deus. Nada que tivesse a ver com rebeldias de infância...
Há
muito que perdi todas as dúvidas de que a adopção de um culto religioso é
extremamente condicionador da mente humana constituindo um factor muito
perigoso para toda a humanidade quando os ditos “valores religiosos” se sobrepõem
a comportamentos morais e éticos adopt ados
e aceites pelos povos, de carácter universal, anteriores a qualquer religião,
que nada têm a ver com ela e que condenariam, por certo, as atrocidades levadas
a cabo pelos terroristas do chamado EI feitas em nome de um Deus.
A
natureza religiosa da humanidade é uma fatalidade, explicada cientificamente
como um “dano colateral” que posteriormente se revelou mais perigoso do que
teria sido previsto pela natureza se ela previsse alguma coisa...
Num
determinado momento da nossa evolução era indispensável acreditar nos conselhos
que nos eram dados pelos nossos pais e os mais velhos do grupo de tal forma que
o nosso cérebro assumiu essa necessidade.
Depois,
foi o dia a dia, o aproveitamento que foi feito ao longo dos séculos e milénios
dessa necessidade com as consequências conhecidas da história e dos dias de
hoje em que os principais dramas da humanidade foram de natureza religiosa ou
justificados por ela.
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