segunda-feira, maio 04, 2015

A Propósito de 


Deus...







A mente humana está vocacionada, não propriamente para amar a Deus, mas para acreditar nele, respeitá-lo, temê-lo, venerá-lo, numa ligação que escapa à vontade, que não depende de argumentos lógicos, racionais, das tais evidências em que os cientistas se apoiam para construir a ciência.

Lembrei-me disto, porque num programa que passei aqui no Memórias Futuras em que o humorista americano Bill Maller, falava num auditório de pessoas religiosas, um deles, no meio da conversa, ausenta-se abruptamente "com vontade de chegar a vias de facto" acusando-o de estar a ofender “o seu Deus...”

Eu, como já sabem, não acredito em Deus por moto próprio. Não me desliguei dele, simplesmente nunca estive ligado, e se alguém fez alguma coisa foi no sentido de eu ser crente, religioso e católico.

A minha mãe, era muito pequenino, ensinou-me as orações, à noite, quando já estava deitado, antes de adormecer, e uns anitos mais tarde, pelos meus 11 anos, fui para um colégio de jesuítas e aí aprendi tudo nos 2 anos em que lá estive: rezas, sacramentos, peregrinações a Fátima e retiros para leituras inspiradoras sobre a vida de homens santos e nunca ninguém tentou convencer-me que essa coisa de Deus era uma treta...

Apenas que as ideias a este respeito, esta indiferença, esta ausência total de sentido religioso foi avançando comigo na vida e cimentaram-se com as leituras do pensamento de Bertrand Russell nos anos 70 e muito mais tarde esclarecido pelo Prémio Nobel Richard Dawkins, um dos maiores intelectuais da nossa época, no seu livro A Desilusão de Deus um campeão de vendas em todo o mundo.

Richard Dawkins tem tido, para além de outros intelectuais, uma acção militante no sentido de desacreditar e desmontar o pensamento religioso com uma argumentação séria e muito bem fundamentada não só nos diálogos que trava em público como no livro que já referi.

Eu não segui, como já disse, nenhum percurso para chegar a não crente e como criança fui obediente e disciplinada e gostava de agradar às pessoas e, dada a minha herança e formação, tudo diria que eu iria ser católico, mais ou menos praticante, mas seguramente crente em Deus. Nada que tivesse a ver com rebeldias de infância...

Há muito que perdi todas as dúvidas de que a adopção de um culto religioso é extremamente condicionador da mente humana constituindo um factor muito perigoso para toda a humanidade quando os ditos “valores religiosos” se sobrepõem a comportamentos morais e éticos adoptados e aceites pelos povos, de carácter universal, anteriores a qualquer religião, que nada têm a ver com ela e que condenariam, por certo, as atrocidades levadas a cabo pelos terroristas do chamado EI feitas em nome de um Deus.

A natureza religiosa da humanidade é uma fatalidade, explicada cientificamente como um “dano colateral” que posteriormente se revelou mais perigoso do que teria sido previsto pela natureza se ela previsse alguma coisa...

Num determinado momento da nossa evolução era indispensável acreditar nos conselhos que nos eram dados pelos nossos pais e os mais velhos do grupo de tal forma que o nosso cérebro assumiu essa necessidade.

Depois, foi o dia a dia, o aproveitamento que foi feito ao longo dos séculos e milénios dessa necessidade com as consequências conhecidas da história e dos dias de hoje em que os principais dramas da humanidade foram de natureza religiosa ou justificados por ela.

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