sexta-feira, maio 01, 2015

Rui Machado foi ontem eliminado no Estoril Open

O (meu) Open do Estoril

e a Tenda dos VIPs em 

2006















Há uns anos atrás, precisamente em 2006, já lá vão 9 anos, aceitei um convite do meu genro para me levar à boleia ao Torneio de Ténis do Open do Estoril.

O deste ano realizou-se no Clube de Ténis do Estoril, em novas instalações, não trouxe nenhum jogador de nomeada que funcionasse como cabeça de cartaz, e dos dois portugueses que participaram o mais cotado, João Sousa, 50º do ranking, foi eliminado por outro português, Rui Machado, muito menos categorizado que por sua vez perdeu ontem com um jovem prodígio, Borna Coric, croata de 18 anos.

Vi parte de jogo, o Rui ainda conseguiu chegar ao 3º Set mas aqui faltaram-lhe pernas e perdeu por 6-1. É normal, o ténis não é propriamente um jogo de sorte e azar e o valor dos jogadores quase sempre vem ao de cima quando as “cabeças” estão no seu lugar.

Todos os jogos começaram por ser formas de entretenimento adquirindo mais tarde a dignidade de quem com eles se entretinha e por isso alguns passam a ser procurados como forma de promoção social porque sempre fica bem brincarmos da mesma forma que as pessoas ricas e importantes brincam para nos parecermos com elas.

 
O ténis, jogado inicialmente nos campos que os ricos mandavam construir por entre os jardins das suas casas apalaçadas estava destinado, por esta razão, a desporto de elite e quando havia torneios era coisa para “inglês” ver porque também ninguém percebia um desporto em que os pontos em vez de se contarem normalmente: um, dois, três e por aí fora…começam em quinze, trinta e quarenta, vantagens para aqui, vantagens para ali, jogo, Set, partida… mesmo coisa que só podia ser inventada por ricos para confundir a cabeça dos pobres.


Nunca vi nenhum vaidoso da minha cidade de Santarém entrar no Café numa manhã de sábado sobraçando um saco de berlindes ou uma simples bola de futebol, mas já lá os vi a passearem a raquete de ténis debaixo do braço.

Foi assim que nasceu a história dos Vips associada ao ténis.



Não fora o 25 de Abril e o Poder Autárquico a construir campos de ténis por esse país fora e a tornar acessível a sua prática ao comum das pessoas, especialmente os jovens, e ainda hoje os havíamos de ver a pavonearem-se com a raquete de ténis transformada em objecto de adorno, as pessoas do costume armadas em “very important pearsons”(VIP), menos agora com a crise.

De certa forma a democracia “estragou” o Ténis e agora pouco há fazer para além de terem que se refugiar no golfe ou no sky na Serra Nevada, na vizinha Espanha, para já não falar nos Alpes Suíços.

Salvou-se a Tenda dos Vips no Open de Ténis do Estoril, desse já distante ano de 2006, já sem as raquetes debaixo do braço mas com o mesmo ar de convencidos, pulôvers de marca colocados por cima dos ombros displicentemente, taça de champanhe na mão, chegando-se “como quem não quer a coisa” para junto de algum “mediático” porque com tantos fotógrafos há sempre a hipótese de ficarem num “boneco” e aparecerem numa qualquer revista.

E eles lá estavam, os mediáticos: o incontornável, inefável e inevitável Scolari, com o inseparável e pegajoso do Madaíl, mais os Vilarinhos e os Soares Francos e o Joaquim de Almeida, com o seu novo visual de barbas, enquanto decorria um desfile de moda da Massimo Dutti acompanhado por um grupo musical que abrilhantava o acontecimento com música típica do sul de Itália onde entrava o nosso familiar e saudoso acordeão a fazer lembrar os bailes da minha aldeia nos anos quarenta e cinquenta.

E as jovens modelos, estilizadas, ou eram marionetas? Não reparei bem, lá iam desfilando como autómatos movidos a pilhas, antigamente teria sido a corda.

Passavam a dois passos de mim, pensei eu que era ao vivo mas estavam tão mortos como quando os vejo na televisão, nos seus rostos não há expressão, nem humanidade e eu pergunto a mim próprio se é preciso aquilo para vender umas camisolas ou umas calças. Naturalmente é capaz de ser...

À saída da Tenda (com letra maiúscula porque é dos Vips), num espaço reservado, no lado direito, três senhores, refastelados em três cadeirões tremiam tanto que mais pareciam acometidos de ataques epilépticos mas afinal era apenas um teste numa máquina de massagens, daquelas que dispensam massagista e logo uma jovem, completamente industriada em curso intensivo, se aproximou para me elucidar das vantagens das massagens.

Respondi-lhe que não estava interessado nos aparelhos apenas tinha parado porque me pareceu que as pessoas podiam estar a sentirem-se mal tal era a tremedeira…

No que respeita ao “desportivo” propriamente dito, tive oportunidade, então, de assistir à surpreendente vitória do nosso Gil que é o 200 do Ranking mundial com um russo de dois metros de altura e serviços a velocidades entre os 200 e 220 de tal forma que o Gil, pequenino, tinha que ir esperar a bola a mais de três metros atrás da linha da linha de fundo.

Mas o gigante começou a enervar-se porque o Gil deslocava-se muito lentamente no campo entre os pontos, esgotando todos os segundos regulamentares, creio que são 20, e o público começou a mandar “bocas” e ele, em vez de pontos, começou a somar asneiras.

Os Torneios de Ténis vistos ao vivo são dois espectáculos: um, que tem a ver com a Sociaty e outro, o desportivo, entre as quatro linhas.

No futebol também é assim. Na qualidade de sócio do Sporting gostava de ir mais cedo para o estádio, não para assistir a “tristes” cenas de vaidade, o futebol foi sempre dos pobres, começava a jogar-se na rua e não nos jardins dos palacetes, mas apenas porque me sentia bem entre a minha família sportinguista.

As “feiras” de vaidade sempre me causaram uma certa repulsa. De feiras, recordo as da aldeia dos meus avós porque tinham fogo de artifício liberto de pedaços de cortiça, rio Tejo a baixo, e dos cordões de pinhões enfiados numa linha.

Tudo já vai pertencendo ao passado mas é bom recordar. Joguei para prazer meu dos 45 aos 75 quando o meu parceiro cedeu com problemas de coluna já tinha eu feito duas operações aos joelhos. É assim quando se gosta...

Site Meter