segunda-feira, junho 15, 2015

O MEU COMPUTADOR










O meu computador esteve hospitalizado a recuperar das suas maleitas. Não sei porque não hei-de tratá-lo desta forma íntima, familiar e personalizada.

Está comigo há mais de dez anos dos quais, os últimos cinco, diariamente. Agora foi vítima de um ataque de vírus que andam pelas estradas por onde ele se desloca tal como nós também estamos sujeitos aos vírus que se passeiam no ar que respiramos.

Recordo que quando tinha uns seis ou sete anos fui vítima de uma tuberculose pulmonar que me ia levando desta para melhor porque não estava a ser bem tratada pelo médico da aldeia dos meus avós, e que me foi transmitida por contágio de outro menino com quem brincava na praia de Santo Amaro de Oeiras.

Os vírus dos computadores são assim como os das pessoas, passam de uns para outros na sua ânsia de sobreviver.

Eu acho mesmo que o meu computador não devia ter aquela forma de uma caixa preta, rectangular, fria e inexpressiva que quando ligada acende aquelas pequeninas luzinhas como se fosse uma máquina igual a qualquer outra, idêntica às telefonias dos meus tempos de menino, durante a 2ª G.G.M., quando as pessoas crescidas procuravam ouvir as notícias do conflito que ardia na Europa e no mundo em fogo de labaredas e que eram enviadas pela BBC de Londres.

Voltando àquilo que eu acho, penso que o meu computador deveria ter uma forma humanizada, como os robôts, que me permitisse uma relação através da qual lhe expressasse a minha admiração pelas suas capacidades - mais do que aquelas que eu consigo aproveitar - por tudo aquilo que me ensina, pelas imagens espectaculares que me mostra ou pelas canções do meu coração que me permite ouvir, tudo pelo trabalho de um click.

Se ele tivesse uma forma humana como deveria ser para quem sabe tanto, eu teria visto nos seus olhos os sinais da doença que o afligia, o esforço que ele fazia para continuar a responder ao trabalho que lhe pedia para colocar, não sei bem aonde, todos os dias, as Memórias Futuras.

Por mais do que uma vez, antes de ser levado de urgência para o seu hospital, desmaiou em pleno esforço sempre com a preocupação de corresponder ao que eu lhe pedia mas reanimava-se e, coitado, lá se ia arrastando crivado de vírus e sei lá de que mais outros micróbios, numa resposta lenta que era aquela que lhe era possível no meio da sua debilidade.

Escrevi estas linhas no Domingo, dia 14 de Junho, com ele ainda hospitalizado, segundo me disseram ligado à máquina que o procurava recuperar limpando-o de todos os seus males.

Tive saudades dele, companhia de todos os dias, parceiro mágico que me põe em contacto instantâneo com todos vós em qualquer parte do mundo, longe ao perto, porque para ele não há distâncias.

E faz-me isto a mim, que aprendi a escrever com uma caneta de aparo metálico que se tirava e punha e mergulhava num tinteiro encaixado num buraco à medida, na carteira da sala de aula, ainda longe da caneta de tinta permanente que só viria depois da 4ª Classe com o relógio de pulso.

A própria máquina de calcular também não chegou, felizmente, a tempo de ser útil para mim o que hoje permite que a minha mulher me peça para lhe fazer uma conta de somar com muitas parcelas.

E perante todo este passado de tecnologia medieval em tempo de aprendizagem, tenho agora por companhia, na parte final da minha vida, uma máquina de verdadeira magia que nem o Júlio Verne, de quem fui um apaixonado leitor, seria capaz de imaginar.

Amanhã continuo... ele ainda está débil.

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