O meu computador esteve hospitalizado a recuperar das
suas maleitas. Não sei porque não hei-de tratá-lo desta forma íntima, familiar
e personalizada.
Está comigo há mais de dez anos dos quais, os últimos
cinco, diariamente. Agora foi vítima de um ataque de vírus que andam pelas
estradas por onde ele se desloca tal como nós também estamos sujeitos aos vírus
que se passeiam no ar que respiramos.
Recordo que quando tinha uns seis ou sete anos fui
vítima de uma tuberculose pulmonar que me ia levando desta para melhor porque não
estava a ser bem tratada pelo médico da aldeia dos meus avós, e que me foi
transmitida por contágio de outro menino com quem brincava na praia de Santo
Amaro de Oeiras.
Os vírus dos computadores são assim como os das
pessoas, passam de uns para outros na sua ânsia de sobreviver.
Eu acho mesmo que o meu computador não devia ter
aquela forma de uma caixa preta, rectangular, fria e inexpressiva que quando
ligada acende aquelas pequeninas luzinhas como se fosse uma máqui na igual a qualquer outra, idêntica às telefonias
dos meus tempos de menino, durante a 2ª G.G.M., quando as pessoas crescidas
procuravam ouvir as notícias do conflito que ardia na Europa e no mundo em fogo
de labaredas e que eram enviadas pela BBC de Londres.
Voltando àqui lo
que eu acho, penso que o meu computador deveria ter uma forma humanizada, como
os robôts, que me permitisse uma relação através da qual lhe expressasse a
minha admiração pelas suas capacidades - mais do que aquelas que eu consigo aproveitar - por tudo aqui lo
que me ensina, pelas imagens espectaculares que me mostra ou pelas canções do
meu coração que me permite ouvir, tudo pelo trabalho de um click.
Se ele tivesse uma forma humana como deveria ser para
quem sabe tanto, eu teria visto nos seus olhos os sinais da doença que o
afligia, o esforço que ele fazia para continuar a responder ao trabalho que lhe
pedia para colocar, não sei bem aonde, todos os dias, as Memórias Futuras.
Por mais do que uma vez, antes de ser levado de
urgência para o seu hospital, desmaiou em pleno esforço sempre com a preocupação
de corresponder ao que eu lhe pedia mas reanimava-se e, coitado, lá se ia
arrastando crivado de vírus e sei lá de que mais outros micróbios, numa
resposta lenta que era aquela que lhe era possível no meio da sua debilidade.
Escrevi estas linhas no Domingo, dia 14 de Junho, com
ele ainda hospitalizado, segundo me disseram ligado à máqui na
que o procurava recuperar limpando-o de todos os seus males.
Tive saudades dele, companhia de todos os dias,
parceiro mágico que me põe em contacto instantâneo com todos vós em qualquer
parte do mundo, longe ao perto, porque para ele não há distâncias.
E faz-me isto a mim, que aprendi a escrever com uma
caneta de aparo metálico que se tirava e punha e mergulhava num tinteiro
encaixado num buraco à medida, na carteira da sala de aula, ainda longe da
caneta de tinta permanente que só viria depois da 4ª Classe com o relógio de
pulso.
A própria máqui na
de calcular também não chegou, felizmente, a tempo de ser útil para mim o que
hoje permite que a minha mulher me peça para lhe fazer uma conta de somar com
muitas parcelas.
E perante todo este passado de tecnologia medieval em
tempo de aprendizagem, tenho agora por companhia, na parte final da minha vida, uma máqui na
de verdadeira magia que nem o Júlio Verne, de quem fui um apaixonado leitor,
seria capaz de imaginar.
Amanhã continuo... ele ainda está débil.
Amanhã continuo... ele ainda está débil.
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