(Domingos Amaral)
Episódio Nº 11
Depois, havia o eco das palavras, muitas,
que foram proferidas em francês, a língua do pai. Apesar de frágil ainda falou,
dirigiu-se a ele.
Meu filho, tendes de tomar conta das
minhas terras, tendes de as defender dos infiéis, como eu defendi sempre.
Ao longo da sua vida, o meu melhor amigo
recordou ditos assim, que seu pai, o conde Henrique, lhe lançou quando ele
tinha três anos.
Ditos sobre justiça, o futuro e a guerra,
e umas palavras incompreensíveis, balbuciadas aos soluços, sobre Jerusalém,
Cristo, três homens.
Ditos de que pouco lhe valiam naquele dia
em Coimbra, em frente daqueles milhares de inimigos. Ali, tudo o que ele
desejava era convocar a fama de guerreiro do pai, para com ela aterrorizar os
homens do califa.
-
Estará na tenda grande, ainda a dormir? – perguntara-me ele na manhã anterior.
Afonso Henriques acreditava que Ali Yusuf,
o almorávida de Marraquexe, regressara pela segunda vez a Coimbra porque queria
dizimar uma vez mais, a família do rei de Leão. Queria matar o neto de Afonso
VI, a quem já matara o filho Sancho.
Ainda me lembro dessa manhã em Coimbra,
tinha eu nove anos. O príncipe, um ano mais novo do que eu, perguntou-me:
-
Lourenço, se o meu pai fosse vivo, o que faria? Atacaria as tropas infiéis,
fazendo uma surtida? Ou aguentaria o cerco?
Enquanto um solitário arqueiro ciranda no
alto do castelo para cá e para lá, o menino perscruta melhor o Mondego, que
parece escondido no nevoeiro, como se as suas águas estivessem envergonhadas e
pedissem desculpa por ajudar os mouros.
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