(Domingos Amaral)
Episódio Nº 46
Na corte do Condado de Portucalense, as sobrinhas do Trava eram muito pretendidas e havia até quem dissesse que uma delas poderia casar com Afonso Henriques, embora nós duvidássemos, pois o príncipe desprezava o amante da mãe e a sua poderosa família galega.
À cautela, logo que as
soubera em Viseu, a prima Raimunda decidiu vigiar-lhes os passos. Porém, as
manas Gomes, haviam permanecido dentro de casa, e só naquele momento, em que
via finalmente Chamoa, tão radiosa e sedutora, a prima Raimunda sofria.
A rapariga galega era
poderosa rival, a maior até à data. A sua chegada representava um perigo fatal
para aquele encantamento escondido e talvez impossível de Raimunda.
Ela e todos nós sabíamos que
o príncipe já dormira com soldadeiras, mas que não se afeiçoava a elas. Já uma
galeguinha doce, risonha e sardenta como Chamoa entraria pelo coração do seu
amado como faca quente em manteiga.
“Jumenta”, sempre a minha
pobre prima. De repente viu um rapaz jovial, um pouco mais velho que Chamoa,
apertado no seu balandrau demasiado justo, aparecer-lhe no pátio e dizer-lhe:
- Chamoa, tendes de vir comigo ao ribeiro da
Loba, vamos a cavalo!
A rapariga riu-se aos
pulinhos mas recusou a sugestão:
- Primo, hoje é Sexta-Feira Santa, é pecado
pensar nisso!
A família de Toronho havia
chegado a Viseu vida de Galiza numa pequena comitiva que à prima hora da manhã
entrara pelas portas da cidade.
Quanto ao seu companheiro de
colóqui o, era familiar dela pelo
lado dos Trava, e não muito distante. Chamava-se Men Rodrigues de Touges e,
pela conversa insinuante, via-se que eram dados ao folguedo, coisa bem habitual
entre primos.
O duo avançou em direcção da
escadaria da Igreja, mas uns metros à frente surgiram Ramiro e o pai, que
estacaram quando se cruzaram com Chamoa e seu primo.
- Chamoa... – murmurou Ramiro visivelmente
atrapalhado.
Filho ilegítimo de Paio
Soares, dizia-se que de uma soldadeira, apresentava um saiote coçado, calçava
umas abarcas e usava umas velhas e longas meias,
Sendo um infanção que não
herdaria terra ou castelo, Ramiro vestia-se como um servo pobre, e o contraste
com o homem a seu lado era drástico.
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