(Domingos do Amaral)
Episódio Nº 64
Aquela história de morte e
de perigo regressava. Paio Soares afastara-se, depois do envenenamento do conde
Henrique, com receio das ameaças de Urraca.
Mas, agora que a rainha de
Leão e Castela morrera, acreditou que podia reaproximar-se de Dona Teresa,
mesmo negando mais uma vez a verdade.
Depois do que investiguei,
admito que as suas omissões e mentiras sobre a relíqui a
se devam a uma antiga promessa feita ao conde Henrique.
Porém há quem diga que foi
outra a razão: Chamoa, a mulher que ambos amavam.
Viseu, Sexta-Feira Santa,
Abril de 1126
Naquela Sexta-Feira Santa, como era de costume estava proibida a ceia, e todos praticavam o jejum e abstinência. Não se admitiam também danças, a música das violas e dos alaúdes, jogos de dados ou a presença de jograis, dos bobos e das soldadeiras.
Os nobres que tinham
acorrido a Viseu, convocados para passarem a Páscoa com Dona Teresa, sabiam de
antemão que o dia não era destinado a convívios públicos e muito menos a
encontros amorosos e pela nona hora todos recolheram às respectivas casas.
Dentro das muralhas haviam
várias habitações dignas, e na mais importante delas estavam instalados Dona
Teresa e o seu amante; a primogénita Urraca e o marido Bermudo; a segunda filha
Sancha Henriques; e ainda a cunhada Elvira de Trava juntamente com o marido e
as duas filhas.
Além destes, num quarto
recatado nos fundos dormiam também as três mouras.
Mais afastada da Igreja,
acolhera-se noutra habitação a família de Ribadouro, junto de quem permanecia o
príncipe, Afonso Henriques, que já há uns anos nunca dormia sob o mesmo teto
que a mãe.
E outras duas famílias
encontravam-se por perto: a de Celanova, num prédio junto ao de Dona Teresa; e
a de Paio Soares, no segundo edifício mais rico da cidade, conforme ordem
expressa da rainha.
Ainda dentro da muralha, estavam outros nobres portucalenses. O
Bragança, por exemplo, fora remetido para perto de uma das portas de Viseu, de
forma a evitar as habituais barafundas em que se metia; e a família dos Mendes
de Sousa, onde o pai Soeiro pontificava e cujo filho Gonçalo era grande amigo
do príncipe, fora colado no lado oposto da cidade.
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